Sabe o manual do "como ser elegante depois dos 40"? Queime.
No início do mês, nós, mulheres que gostamos de moda e não temos mais 20 anos, recebemos com alegria e alívio a notícia de que a gigante da moda Zara colocou em seu catálogo, finalmente, mulheres de mais de 40 anos para vender roupas para… mulheres de mais de 40 anos!
A coleção foi lançada com alarde. A ideia era mostrar roupas que servissem para as mulheres de todas as idades e que não seguissem tendências – fossem clássicas. Na campanha, as modelos Kristina de Coninck, 53, Malgosia Bela, 40, e Yasmin Warsam, 40, dão declarações sobre envelhecer. A Zara tocou no assunto. Ótimo.
Mas parei para pensar. A gente vive uma época em que a pressão da juventude é tão bizarra que comemoramos o fato de apenas três modelos de mais de 40 participarem das campanhas de uma marca tão grande como a Zara? E isso é tão raro que vira notícia?
Vá até uma loja Zara. Quem são as clientes? Obviamente são mulheres de todas as idades. Mas, assim como acontece com todas as outras marcas, as mulheres de 40, 50, 60 anos, compram roupas que no catálogo (e nas passarelas) foram exibidas por mulheres de 20 e poucos anos, se muito.
As roupas da coleção batizada "Timeless" ("atemporal", em inglês) são bonitas e clássicas. E a marca se inspira no conceito "sem idade" (ageless). A ideia vai contra os estereótipos da idade e vem sido discutida não só na moda. Legal a Zara entrar nessa.
Mas, escuta, as outras roupas da Zara não eram para mulheres de todas as idades? "Ah, tinha a parte clássica", me dizem. Mas desde quando uma mulher que passou dos 40 deve ser clássica? Essa é uma ideia que está por todo canto faz tempo. E que, pense, não faz sentido algum!
Imagine uma pessoa que nunca foi clássica, pelo contrário. Alguém que sempre gostou de misturar estampa, cor, fechar tudo. Ela faz 40 anos. Do nada, tem que mudar de personalidade e …. Virar uma mulher clássica? Que ideia mais antiga, Deus do céu!
Se a gente seguisse o mercado e as tais regras de etiqueta a situação das mulheres de mais de 40 seria assim: temos que comprar as roupas clássicas vendidas por modelos de 20 e poucos anos, mas não podemos comprar as roupas, digamos, mais divertidas, porque elas foram feitas para pessoas de 20 e poucos anos. E nós, bem, nós não temos mais idade.
Não tenho uma amiga de mais de 40 (ou 50, 60, 70) que se preocupe com essas regras. E isso mostra, sim, que as coisas estão mudando.
Moro em Berlim, uma cidade onde dar de cara com uma moça de seus 60 de cabelo verde trabalhando como caixa de supermercado é apenas normal. Quando vejo essas senhoras, penso o óbvio: elas continuam sendo as mesmas pessoas. Eram punks. O tempo passou e elas… continuaram punks! Louco, não?
Não existe um regra que diz que quando a gente muda de idade a gente tem que mudar de estilo. As pessoas tentam nos empurrar isso faz muito tempo. Mas, quer saber? É mito. Não caia nessa. Olhe para as mulheres mais icônicas do mundo, todas elas, e perceba: elas mudaram de estilo? Não, por isso elas são sensacionais. Olhe para uma Vivienne Westwood, Yoko Ono, Rita Lee. Você queria mesmo que elas fosse clássicas? Tenha dó!
Ah, mas se eu acho que as modelos de mais de 40 podem (e devem) invadir o mundo da moda? Claro! Exemplo brasileiro: Gloria Coelho, na recente São Paulo Fashion Week, chamou clientes e amigas para exibirem suas peças. Nada mais legal do que ver cliente da marca de verdade, como Marina Lima, Julia Petit, desfilando as roupas. Não para, não para, não para não! E sabe aquele manual de "Como ser elegante depois dos 40"? Queime.