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Nina Lemos

Meghan Markle: já é quase 2018 e nós ainda queremos ser princesas

Nina Lemos

28/12/2017 04h00

Harry e Meghan, o novo casal queridinho da realeza (Foto: Divulgação)

Lembro que uma amiga uma época acompanhava a vida da Britney Spears. Ela nunca foi fã de música pop. "Sigo a vida dela porque é tudo perfeito", me disse ela, na época. Bem, isso foi antes da Britney ter um surto, raspar o cabelo e ser fotografada quebrando um carro em Los Angeles.

Depois disso, minha amiga deixou a Britney de lado, claro. De louca já basta a nossa vida. E passou a acompanhar a vida da família real britânica. Faz isso até hoje. Confesso que faço o mesmo.

Somos, eu e minha amiga, fã da série "The Crown", que narra a vida da família real desde que a rainha Elizabeth era criança. A segunda temporada estreou esse mês no Netflix e, segundo a produtora da série, 65% da audiência é formada por mulheres. Não estou surpresa. Além de a série ser ótima, um retrato histórico, etc, muitas de nós adoram um palácio. Vamos admitir.

Está aí a obsessão mundial com a Kate Midleton e a recente paixão pela atriz Meghan Markle, noiva do príncipe Harry, que não nos deixam mentir. O príncipe anunciou seu noivado com a plebeia, divorciada, filha de mãe negra e mais velha também nesse fim de ano. Gritos de empolgação ao redor do mundo! Comoção. Emoção. Principalmente por parte de mulheres, que parecem acreditar que trata-se, de fato, de um conto de fadas.

Eu que não caio nessa. Sou, sim, fã de  "The Crown" e gosto de ler notícias sobre a família real (é tipo ver novela, um passatempo). Mas levar isso a sério? Não!

Princesa feminista é a nova Barbie piloto

Tem coisa mais antiga do que pensar em ser princesa? "Ah, mas a noiva do príncipe Harry é feminista", dizem.

Como se "princesa feminista" fosse uma nova categoria de boneca, como a Barbie piloto. Ela é mais velha, é negra e divorciada, independente! A audiência vibra. Eu olho desconfiada. Não acho que dê para ser moderna e parte da realeza ao mesmo tempo. Quando casar com um príncipe, a atriz vai ter que trabalhar e se dedicar só a afazeres de… parte da realeza.

Tudo parece mais uma jogada de marketing muito bem pensada do que conto de fadas entre príncipe e plebeia. Se for mesmo uma história de amor, que ótimo. Mas não, não vai ser como nos contos de fadas com "felizes para sempre". Inclusive porque isso não existe.

Prefiro princesa a musa fitness 

Vamos lembrar o básico, aquilo que ensinamos para as nossas crianças: príncipe encantado não existe (eles sempre viram um sapo) e não tem nada, nada a ver uma mulher "se fazer de princesa" (intocável, indefesa e melhor que os outros?).

Sim. Todos precisamos de um escapismo e talvez seja melhor acompanhar a vida da família real do que a da blogueira fitness cheia de foco. Pelo menos a família real é algo mais distante e não nos sentiremos tão culpadas por não acordar cedo, comer sempre saudável ou estar sempre com "o cabelo perfeito".

Mas, queridas, lembrem, aquilo não é de verdade. Aquilo é uma fantasia. Papai Noel não existe, lembram? Nem princesa de conto de fadas.

Elas são só mulheres com tiara, muito dinheiro e regras chatas para seguir. Sinto muito. Mas bora rasgar essa fantasia, vai!

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.