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Nina Lemos

Modelos de mais de 40 recusam aposentadoria. Que bom!

Nina Lemos

28/02/2018 12h37

Eu sempre tive várias amigas modelos, a maioria de idades parecidas com a minha. O tempo passa. Hoje, temos 40 e poucos ou 40 e muitos. A maior parte dessas amigas bombou nos anos 90.

Quando as conheci, já tinham viajado o mundo, morado no Japão e falavam várias línguas. E se você acredita no estereótipo de que modelo é burra, aviso logo que isso não tem nada a ver.

Mas algo chato acontecia com as minhas amigas. Ao completar 30 anos, ou antes mesmo, elas tinham que arrumar outra profissão. Estavam velhas demais. Algumas começaram do nada novas carreiras, muitas tiveram sucesso. Mas a maioria sofreu. Bastante.

Imagina ter que se aposentar com os seus 28 anos porque você está velha? E isso em um trabalho onde sua aparência está sendo julgada (para o bem e para o mal) o tempo todo? É o mundo gritando que você datou. Tá passada.

Claro, os efeitos da ditadura da idade nas passarelas e em campanhas nunca afetaram só as modelos. Mas todas nós. As roupas para mulheres de 30, 40, 50, 60, 70 sempre foram exibidas por mulheres de 20. E super altas, supermagras. Tínhamos (e temos) como modelo (literalmente) criaturas com um padrão que 99,999% de nós nunca terá. Será que um dia isso vai mudar?

Olha, talvez existam alguns motivos para ter esperança. Assim como atrizes e cantoras famosas (ei, Madonna!), algumas modelos decidiram dizer não a essa ideia de que "passou da idade, passou do ponto." Que bom.

"Vou continuar sendo modelo, mulher não tem que ter prazo de validade". A frase estava aqui no UOL e foi dita pela modelo Heidi Klum. Chegando aos 45 anos, ela avisa que não, não vai se aposentar. E que é ridículo, inclusive, ter que responder a essa pergunta.

"Por que sempre temos que ver mulheres só de 20, 30 anos nas campanhas? Por que uma mulher mais velha também não pode estar lá?", ela pergunta. E deixa claro que ainda está no negócio e não pretende sair.

Passarela branca, jovem e magra

Claro que as passarelas continuam jovens, brancas e magras. Mas algumas modelos da mesma geração que as minhas amigas estão aí dizendo não para a tal aposentadoria compulsória.

As icônicas Naomi Campbel e a Kate Moss, por exemplo, vez ou outra, estão nas passarelas. A ultima vez foi em janeiro, quando desfilaram juntas no show da Louis Vuitton masculina em Paris.

Na semana de moda de Milão do ano passado, em um desfile da Versace, sobrou para Naomi, 47, Cindy Crawfod, 51,Helena Christensen, 48, e Carla Bruni, 49, o posto de destaque como grandes atrações (não só do show, mas da temporada). Kate, esse ano, dividiu os holofotes com Gigi Hadid, 22, a modelo "do momento".

Será que a indústria da moda finalmente percebeu que as mulheres que compram roupas em geral não têm apenas 20 anos (pelo contrário, em geralm as mais velhas têm mais dinheiro, e tudo é sobre dinheiro, ninguém é apenas bonzinho, trata-se de uma industria, não esqueçam).

Pelo mundo, pipocam agências em busca de modelos "clássicas"(com mais de 40). E aí, povo da moda, me desculpem, mas clássica é a o caramba! Não é porque somos "mais velhas" que passaremos a ser mulheres de bege comportadas (só se quisermos).

As mulheres mais velhas ainda são tipo "cota" nas passarelas. Uma aqui, duas ali. Mas melhor que nada. E que mais se recusem a deixar o trabalho. Quem sabe a chamada "rebelião grisalha" não esteja apenas começando?"

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.