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Nina Lemos

Tem medo de envelhecer? O Oscar deve ter feito bem para você

Nina Lemos

05/03/2018 11h27

Jane Fonda, no Oscar 2018. Foto: Getty Images

Se você, como quase todo mundo que é humano, tem medo de envelhecer, o Oscar dessa ano deve ter feito bem para você. Conclamado como "Oscar da diversidade", esse foi também o do red carpenter das mulheres mais velhas, lindas, elegantes e com idade de avós (ou bisas).

Em tempos em que mulheres adotam o cabelo grisalho e decidem fazer da idade um statement do tipo: "passei dos 60 sim, e aí, vai encarar?" ao invés de mentir números ou esconder idade como um segredo horrível, o tapete vermelho seguiu a onda. Oba. Resultado: algumas das musas mais lindas e elegantes ao cruzar o tapete vermelho foram mulheres não apenas de 50 ou 60, mas de …mais de 80 anos!

A musa Jane Fonda, nossa querida Gracie do seriado Gracie e Frankie e, mais que isso, claro, a mulher que sempre rompeu tabus e abraçou a luta política e pelo direito das mulheres quando a palavra empoderamento nem pensava em existir, tem que estar em toda a lista de mais elegantes que se preze. Jane apareceu vestida de branco, com um vestido justo e um casaco estruturado da  Balmain Na lapela, usava um broche do movimento "times up" . Arraso.

Meryl Streep, no Oscar. Foto: Getty Images

E sabe aquele papo de que mulher depois de uma certa idade precisa se portar e adotas tons clássicos, comportados? Pois pare com ele. Temos o exemplo de estilo bem aqui. Uma mulher de mais de 80 pode (e foi) ser aquela mais corajosa ao ostentar estilo sem nenhum medinho de errar no tapete vermelho.

O nome da moça que fechou tudo é Rita Moreno, de 86 anos. A atriz apareceu no tapete vermelho usando o mesmo vestido escandaloso que trajava em 1961, ano que ganhou o Oscar de melhor atriz coadjuvante com clássico "West Side Story".

O vestido preto e dourado combinado com turbante  arrasou e deixou meninas lindas de 20 e poucos anos trajando aquele nude de sempre parecendo sem graça, tadinhas. Rita, para quem não sabe, brilha no elenco do seriado "One day a time", do Netflix, onde interpreta uma hilária cubana dançarina de salsa matriarca de uma familia de imigrantes nos Estados Unidos.

O trio de mulheres maravilhas é completado pela genial francesa Agnes Varda. Diretora de filmes desde a época da Nouvelle Vague que foi indicada ao Oscar de melhor direção pelo documentário "Visages, Village". Aos 89, Agnes é a mulher mais velha a ser indicada a um Oscar na história. E também escolheu um modelo muito longe do comportado: um conjunto da Gucci de matar os mais modernos de inveja.

Melhor atriz sem make

Cereja do bolo do chamado Oscar da diversidade (ainda falta muito, mas ao nomear uma mulher trans melhor atriz, por exemplo, parece que eles estão tentando): Frances MCDormand, vencedora do prêmio de Melhor Atriz do Ano pelo filme "Três Anúncios para um crime"   apareceu sem maquiagem. A atriz de 60 anos, cabelos grisalhos, fez um discurso arrasador e conclamou todas as mulheres profissionais de cinema a ficarem de pé.

Uma cerimônia de Oscar não muda muito as coisas. Mas pode ser um sinal de que a patrulha está afrouxando. E ser mulher vai ficando um pouquinho mais divertido. Tomara.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.