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Nina Lemos

Youtuber denunciado por estuprar ex: caras como ele estão em todo lugar

Nina Lemos

30/07/2018 11h45

 

O que acontece com esses moços, ogros moços? Mais uma vez, um youtuber com milhões de seguidores é alvo de uma acusação seríssima. No caso, de ter estuprado uma ex-namorada. Nome do sujeito: Everson Zoio. Nunca tinha ouvido falar? Nem eu. Mas ele tem quase 10 milhões de seguidores e é famoso entre crianças por fazer "desafios nojentos." Everson é um deformador de opinião, assim como Cociello, o menino dos posts racistas.

Em vídeo que corre pela Internet, Zoio conta uma história nojenta e criminosa. Ele narra, com detalhes, como transou com a namorada sem ela querer (qual o nome disso? Estupro.) Segundo ele, a menina dormiu, ele quis transar. Os detalhes (horríveis) são contados em video para amigos. Todos gargalham. Acham o tal Zoio um "bacanão".

O que acontece com esses sujeitos? Por que os outros riem na cena? Como esses caras acham que esse tipo de coisa é bacana? Como não percebem que é crime?

Um palpite. Isso não acontece só com Youtubers e seus amigos. Isso rola quando um certo tipo de cara tosco ganha voz. Não estou falando de todos os homens, que fique MUITO claro, mas ainda existe um tipo de sujeieto que acha que ser babacão com as mulheres pega bem. Um sujeito como Everson Zoio é apenas um dos muitos.

Onde estão os outros? Por aí, nas academias, nas escolas, no trabalho, nas rodas de homens, bares e tantos outros lugares onde falar coisas criminosas e estúpidas sobre mulheres ainda pega bem.

Um exemplo antigo de ogro com voz: Marcelo Dourado, do BBB10,  que, em 2010 destilou preconceito e estilo machão no reality. Uma de suas frases: "Hétero não pega Aids". No mesmo programa, em 2012, o participante Daniel foi expulso acusado de transar com uma colega de programa que dormia, bêbada.

Atenção, caras legais!

Sim, as mulheres denunciam. Sim, as coisas mudaram. Mas faço aqui um apelo para os homens legais (que existem, e são muitos). Conversem com seus filhos, sobrinhos, amigos.  Se eles contarem essas coisas se fazendo de engraçados, diga que não acha graça. E, claro, não leve seu filho criança para lugares "de homem" onde se fala essas coisas. Se eles não crescerem com esse exemplo, talvez não copiem esse comportamento quando crescer, talvez não achem legal.

Não ensine para ele que "assim é que é homem."

E, meninos, se vocês lerem esse texto, vocês não precisam rir se um cara falar um absurdo desses. O exemplo também tem que vir dos caras. Saia da conversa. Se você é "corajosão", diga para o seu amigo que ele está sendo babaca, que sexo sem consentimento é crime.

O youtuber Everson pediu desculpas e disse que inventou a história para pegar bem com os amigos (SIC). Ele vai perder patrocinios (ja perdeu, bem feito), a polícia vai investigar o caso (certíssimo). Mas não é só isso que vai fazer com que os "Zoios anônimos" mudem de atitutde. E mudar as coisas é bem mais complicado do que proibir os filhos de ver videos no Youtube. O trabalho, penso, tem que ser de base.

Amigos pais e mães, professores, colegas jornalistas, a gente pode (e deve, por obrigação) tentar melhorar esse panorama. É um trabalho árduo, vai demorar. Mas, sinceramente, acho que só assim. E essa mudança, tenho certeza, não vai ser boa só para as meninas, mas para os meninos também. Para o país. Para o mundo…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.