Topo

Nina Lemos

Instituição lança o desafio “setembro sem rede social". Quem consegue?

Nina Lemos

03/09/2018 12h44

Foto: Getty Images

Se você chegou a esse texto via redes sociais, uma dica: você deveria acabar de ler esse texto, sair da rede correndo e só voltar em outubro. Não desça o feed. Você consegue. Você pode sobreviver. Só por hoje, vamos lá, tente! Difícil, né?

Sim, isso porque somos viciados. Se não fôssemos, pararíamos quando quiséssemos. E não adianta falar que não é um adicto porque já ficou vários dias sem rede social, isso é igual a aquela piada do fumante que diz que não é viciado porque "já parou de fumar várias vezes". Assumir é a primeira parte da cura. Lembra?

O vício em redes sociais não é modo de dizer. É uma coisa séria. Uma epidemia. Prova é esse desafio lançado por uma instituição de saúde inglesa, a Royal Society for Public Health, o "Scroll Free September" (Setembro sem deslizar os dedos, em traduação literal, ou setembro sem checar mídia social, em tradução livre). Trata-se de um grande detox mundial. Semelhante a campanhas que já ocorrem para mês sem cigarro e um mês sem álcool.

E por que a associaçao resolveu lançar o desafio? Porque eles acham, de verdade, e baseados em pesquisas, que esse vício está nos fazendo muito mal e que precisamos dar um tempo. Cerca de 300 mil pessoas já disseram estar participando do desafio. Pois é. Ainda dá tempo.

Mas… quem consegue? Um mês sem checar as redes? Um mês sem deslizar o feed? E em anos de eleições? Fala sério!

"Só vou dar uma checadinha"

Parece ridiculo (e é) mas o movimento de descer o feed, aquele que fazemos com os dedos, já se tornou automático, como é para um fumante acender um cigarro (como viciada não orgulhosa digo com propriedade).

Fazemos isso sem pensar. E, se não tomarmos cuidado, passamos horas deslizando os dedos e olhando para dentro desse buraco negro.

Dificilmente, saímos de uma sessão de checagem nos sentindo melhor. Em geral, quando fazemos isso no Facebook, lemos coisas horrendas que nos irritam, sabemos de notícias supertristes e vemos de novo (como no caso de hoje) imagens supertristes de algo que já nos fez chorar de manhã (no caso, as do Museu Nacional em chamas).

Quando "deslizamos" a timeline do Instagram, a sensação é diferente, mas não melhor. Ali, como vocês sabem, vemos pessoas felizes, que acordaram de bom humor, estão na praia, vidas editadas e lindas (até as nossas vidas são melhores no Instagram, vamos admitir!). Não por acaso essa é a rede, segundo estudos, que mais causa distúrbios emocionais.

Descer a timeline do Twitter também não é uma experiência tranquila. É um desafio para escapar de tretas. "Ah, mas isso não atrapalha a minha vida nem a da minha família", você diz. Sério? Jura que você não deixa as pessoas esperando por você na porta enquanto fala: "Espera, vou só dar uma checadinha"?

Um mês sem rede social, principalmente nesse mês que antecede as eleições brasileiras, acredito, poderia fazer bem para todo o país. A raiva diminuiria, veríamos as coisas com mais perspectiva. E, além de todos os sentimentos negativos que são alimentados por redes sociais, ninguém leria fake news. Alguém desliga as redes socais do Brasil por um mês, por favor! Brincadeira. Mas que seria ótimo, seria.

Poderíamos participar desse grande movimento mundial e fazer isso voluntariamente. Mas quem consegue? Eu, sinceramente, não. Só com intervenção, gente… "Liga pro Samu!".

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.