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Nina Lemos

Como sobreviver até as eleições sem enlouquecer

Nina Lemos

07/09/2018 04h00

Foto: Getty Images

Falta exatamente um mês para o primeiro turno de uma das eleições mais tensas do Brasil. Nas redes e nas ruas, o clima está pesado. Já vi gente acabar almoço de família aos prantos, pessoas darem barraco em grupos, perderem o sono etc. A má notícia é que ainda falta um mês (e depois outro mês para o segundo turno). A boa notícia é que SÓ falta um mês. Se sobrevivemos até aqui, conseguiremos!

Troco com vocês algumas dicas básicas de quem sobreviveu às eleições de 1989 em uma família onde metade era Lula e a outra, Collor. Sim, 1989 foi tão tenso quanto agora. Teve briga, teve choro. E olha que nem existia internet naquela época!

No inicio da semana, sugeri que vocês fizessem detox. Mas duvido que a maioria  tenha conseguido. Então, as coisas só ficam mais complicadas.  Você corre o risco de se chatear (e/ou brigar): nas redes, na rua, na academia, no trabalho, no quilo. Estou aqui para tentar te ajudar a evitar que isso aconteça. Por isso, tome algumas medidas de precaução (sim, esse é um texto de humor, mas as dicas funcionam, juro).

Viva os fones de ouvido!

No trabalho, uma boa é abusar dos fones de ouvido (se você não tiver que falar com público, claro). Fique na sua. Se alguém ficar de provocação, peça educadamente que a pessoa pare. E não, não seja você a pessoa a provocar, pelo amor de Deus! Se os seus colegas insistem em provocar, faça seu trabalho e vá almoçar só (de fone) para não escutar as outras pessoas do quilo. Se você trabalha com público… coragem! Ouça em silêncio o que seus clientes dizem imaginando que está em uma ilha ensolarada. E conte tudo para seus amigos por mensagem para desabafar.

Os fones são úteis também em transportes. Assim como os óculos escuros. Servem para ônibus, trem, taxi, metrô. Se o taxista ou seu vizinho de cadeira insistir em discutir política (mesmo com você usando fone) e você "não estiver no dia", finja que alguém te telefonou e invente uma conversa. Vale tudo para manter a sanidade!

Fique um pouco fitness

Para gastar a energia, a ansiedade e desviar do risco de se meter em discussões, você pode dar uma de blogueira fitness. A endorfina liberada por exercícios é magica.  Por exemplo, ande de  biclicleta!

Uma das maravilhas do esporte é que não dá para entrar na internet e brigar ao mesmo tempo em que você pedada (a não ser que você queira morrer). Você  também pode fugir para a esteira. Uma amiga, quando fica muito nervosa com as eleições e com tentação de brigar no Facebook, corre para a esteira do prédio. Ela foge no meio da madrugada. Volta com a endorfina em dia e consegue ficar meia hora fora da internet. Atenção, se você for para a academia, não esqueça do fone de ouvido, assim você não vai ter que discutir com ninguém.

Se você não tem esteira, corra na rua. Mas sem usar camiseta, adesivo, nada ligado a partido ou candidato, claro. Correr é ótimo porque também dá uma sensação de fugir de tudo isso (o que é o que uma grande parte de nós quer fazer).

Não brigar com amigos e familiares: você pode!

Ah, e é possível sobreviver esse mês sem brigar com pessoas amadas? Sim! E falo isso como pessoa que acompanha política desde os 12 anos e sobreviveu a várias eleições: não vale a pena brigar com amigos de verdade e com familiares. Mesmo.

Ela pode pensar completamente diferente de você quando o assunto é política, mas se vocês se amam há anos e anos é porque vocês têm outras coisas em comum. Por isso, fuja das brigas.

Como?

Se as pessoas do grupo de WhatsApp da sua família, por exemplo, pensarem diferente de você e são do tipo que adora provocar (não seja essa pessoa!) avise que vai dar um tempo para não brigar e… saia do grupo.  Volte quando tudo se acalmar. O mesmo vale para grupos de prédio, da escola dos filhos, da fazenda e da casinha de sapé (só que, para esses, você nem precisa voltar).

Se você não quer brigar no Facebook com familiar , coloque a pessoa em modo soneca, uma das melhores coisas do Facebook. A pessoa querida nem vai perceber que foi silenciada por você e as coisas que ela escreve só voltarão a aparecer no seu feed em 30 dias.

Agora, se essa pessoa for do tipo que vai na sua página e escreve coisas, complica. Sua página, suas regras. Tente ignorar. Se insistir, tente falar de boa para a pessoa não continuar. Se continuar… bloqueie! Ela terá que entender.

Evite as reuniões de família onde você vai encontrar pessoas que vão te provocar. E já vejo os comentários me acusando de destruidora da família e inimiga da democracia. Mas, gente, existe um tipo de gente com quem dá para conversar (aquele que tem argumentos e respeita opinião dos outros). Quem sai falando: "Mas seu candidato, heim! Tudo isso vai acabar quando o meu for eleito etc… etc…" está querendo confusão ou sendo desrespeitoso. Só falta um mês, espere para encontrar depois.

E quando der muito desespero, medo e ansiedade, repita o mantra: só falta um  mês, só falta um mês. Pense, em 15 dias só faltarão… duas semanas!  Quando você perceber, já passou. E depois é só repetir tudo até o segundo turno. Ufa! Sorte para todos nós!

PS.: E como disse a minha amiga Eva Uviedo, tudo que é válido para a boa educação nos dias normais, também vale para as eleições. É legal xingar o coleguinha? Insistir em assunto que ele não quer? Não, certo? As eleições não são ponto facultativo da boa educação.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.