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Nina Lemos

Fui alvo de um ataque hacker. O que fazer para que não aconteça com você

Nina Lemos

17/09/2018 11h36

Foto: Getty Images

Quinta-feira de noite. Entrei despreocupada no Twitter para "ver o que estava rolando". Só que minha foto não estava lá. No lugar, um símbolo preto com um "c" no meio. Em segundos, minha conta simplesmente desapareceu. E, nesses segundos, descobri que tinha sido hackeada. Alguém, por um motivo que não sei, mas desconfio (o ódio anda solto) rastreou a minha conta. Mandei mensagens aos berros para os amigos. Eles tentavam me achar e… realmente, eu não existia mais no Twitter. Uma história de dez anos e mais de 20 mil seguidores tinha desaparecido. Sim, Deus é pai, o povo do Twitter é legal, tenho ótimos amigos que fizeram barulho e minha conta está sendo recuperada. Mas foram minutos horríveis.

No dia seguinte, no mesmo horário, entrei no Facebook e o mesmo "c" estava lá. No exato momento, a mesma imagem apareceu no Instagram. Em poucos segundos, me dei conta de que estava  sendo alvo de um ataque hacker direcionado (aqueles que fazem para ferrar uma pessoa em específico, no caso, esta blogueira).

Já estava esperta depois do incidente do Twitter e, rapidamente, reportei para o Facebook e para o Instagram que havia sido hackeada. Mudei senhas. Em menos de meia hora, eu tinha tudo de volta no meu nome. Meu Twittter continua esquisito, mas logo volta. Isso é o de menos.

Depois de recuperar as redes, o que eu fiz?  Chorei, lamentei, chorei mais. Eu me senti atacada, exposta e injustiçada. "Mas por que?", "Por que fizeram isso comigo?". Parecia que eu tinha apanhado. E você sente isso, um espancamento. Você salva um, eles vêm, derrubam outra. A sensação é, quando você levanta, te derrubam de novo. E você tem que ter sangue frio e resolver tudo rápido.

Sim, é igual ser atacada na rua. É o mesmo que ser assaltada. Tentaram pegar algo seu. No caso, fica um pouco mais sinistro porque não temos ideia do que podem fazer com isso. Vão pegar meu email e me ameaçar? Vão descobrir quem é minha família? Vão fazer o mesmo com os meus amigos?

Antes que vocês falem que é "mimimi", que fique claro, eu fui alvo de um CRIME. "Esse é um crime previsto em lei, a lei Dieckman é superclara a respeito disso", explica a advogada Flavia Penido, especialista em direito digital.

No primeiro dia em que fui atacada, Flavia me mandou uma mensagem e disse: "Se não recuperar até amanhã, vá até a delegacia."

Sim, quando você é hackeado, repito, você foi vítima de um crime que pode (e em muitos casos deve) ser reportado. "A pessoa tem que tirar prints das páginas mostrando o que aconteceu e fazer um B.O., você pode fazer um em qualquer delegacia", expica Flávia.

No mesmo dia em que fui atacada no Twitter e no Instagram, derrubaram no Facebook o grupo "Mulheres contra Bolsonar", com mais de 1,4 milhão de seguidores. Eu não estava mais no grupo quando fui atacada. Mas, depois desse crime, vi muitas mulheres em pânico. E se me hackearem? E se me ameaçarem?

Conversei com especialistas para evitar que isso aconteça com você (é horrível, agora sei por experiência própria). E para entender o que você pode fazer se o pior acontecer e te atacarem de fato.

O que fazer para evitar ser hackeada

1-Tenha senhas difíceis

O primeiro passo é criar senhas muito difíceis e nunca as repetir. Basicamente, para ficar "seguro" na Internet, você tem que fazer tudo que é chato. Dá trabalho.

"A parte mais importante é a senha. Nem tudo está ligado à alta tecnologia, mas à lógica, mesmo", explica Natasha Madov, uma das criadoras do ADA, uma plataforma voltada ao ensino de tecnologia para mulheres. "A pessoa tenta. Ela entra na sua página e vê que você teve uma gata chamada cafeína, o nome do seu marido, da sua mãe, da sua cidade natal, e vai tentando. Quanto mais difícil, melhor. Se a pessoa tentar te hackear e não conseguir, ela vai tentar outro."

Sabe aquilo de não colocar o celular no bolso traseiro da calça? Não andar com aparelho à mostra em lugares suspeitos etc. É tipo isso. Você tem que tomar cuidado. "As senhas têm que ser diferentes. Para tudo", diz Natasha. Claro, gente, mas claro! E não, aviso que minhas senhas não eram iguais.

2-Ative a segunda verificação

"Em uma época que você está mais suscetível a ataques, não basta trocar as senhas, você deve também habilitar a segunda verificiação", alerta Flavia Penido. Com esse serviço, oferecido pelo Facebook, Twitter e Instagram, você vincula suas contas ao seu número de telefone. Depois de colocar a senha, você recebe um SMS com um número que deve ser digitado. Chato? Sim. Mas ficar seguro dá trabalho.

Ativei a segunda verificação em segundos no Twitter e no Facebook. É superfácil.

3-Não use o Facebook de atalho

Centenas de sites deixam a gente se cadastrar só apertando o "entrar com Facebook", não é? Confesso que faço isso sempre. Motivo: é mais prático. "Você paga um preço por fazer do jeito mais fácil. Quanto mais gente tiver seus dados, mais exposto você fica", diz Natasha.

O que fazer se você for hackeado

A primeira coisa a fazer, na hora, explica Flavia Penido, é avisar os amigos para que eles avisem para a rede social que você foi hackeado. Se você desconfia de quem foi, deve reportar a página repetidamente (de novo, com ajuda dos amigos), assim a página será suspensa.

No caso de alguém estar te ameaçando, xingando, você também deve denunciar, com uma boa ajuda dos amigos, para que o caso chegue logo nos centros de checagem das redes. "O próximo passo é ir para uma delegacia e fazer um B.O. Você está sendo alvo de crime previsto em lei e que deve ser investigado", diz Flavia.

Não, gente, não é o caso de ficar paranóico, mas em tempos de ódio, é bom ficar esperta. Dá um trabalho, mas cura muita dor de cabeça. E, oh, dica de quem foi hackeada: como tudo na vida, passa. Na hora, chorei. No dia seguinte, acordei muito triste, como depois de ser assaltada. Dois dias depois, voltei ao normal. A vida segue! Não deixe um hacker te calar (sim, é isso o que eles querem, como em qualquer espécie de terrorismo, a ideia é causar terror). Tudo bem chorar… Mas depois, é aquilo, sacudir a poeira. De novo.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.