O diplomata agressor e os caras que tentam fazer mulher se sentir burra
"Eu fazia Direito pelo Pro-Uni [programa federal de concessão de bolsas de estudo para população de baixa renda] e ele falava que isso demonstrava minha inferioridade intelectual, que eu não tinha capacidade de fazer Direito em uma universidade pública, como ele, que estudou na USP."
Esse é uma dos trechos do depoimento chocante da estudante de direito Luana (nome fictício), de 22 anos, uma das mulheres que acusam o diplomata Renato De Ávila Vianna, de 41 anos, de agressão.
O diplomata, que chegou a ser preso em flagrante por agredir outra namorada, foi demitido na última quinta-feira, 20.
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Luana teve um dente quebrado com um soco e toda sua história é terrível. Mas essa parte me chamou atenção por um motivo simples: um homem tentar fazer uma mulher se sentir inferior intelectualmente e usar isso para oprimir é comum. Absurdamente comum.
O que eu já vi de meninas vitimas de "abuso intelectual" (aquele em que o cara tenta te convencer que você é burra ou, no mínimo, não tão inteligente como ele, esse "gênio") não cabe em uma mão.
No caso, vi acontecer com amigas superinteligentes, com mestrado, PHD, texto incrível, talento para arte reconhecido.
Recentemente, uma amiga de 30 e poucos anos que trabalha em uma daquelas profissões tão difíceis para alguém de humanas, como eu, que nem sei explicar o que é, me narrou o quanto se sentia burra em um relacionamento abusivo do qual já se safou (ainda bem). E, escuta, essa amiga sabe usar uma calculadora científica (nem me pergunte o que é isso!).
Esse tipo de comportamento, muitas vezes, é sutil e não acontece apenas quando o cara fala: "você é burra!" (nesse caso, te aconselho a fugir imediatamente). Ele se manifesta nas entrelinhas.
Já vi (muitas vezes) o namorado, por exemplo, comparando a menina com uma amiga e dizendo. "Nossa, a fulana é tão inteligente, né? Como pode?" Escuta, ótimo você falar que a amiga da sua namorada é inteligente, mas deixe claro que a sua namorada também é!
São situações ridículas, em que mulheres geniais começam a achar que, sim, são intelectualmente inferiores aos seus pares porque, por exemplo, ele critica o tempo todo sua falta de aptidão para línguas estrangeiras.
Ao longo da história, poetas, escritoras e cientistas já passaram por isso. Um exemplo famoso: a poeta Silvia Plath, que viveu por anos um relacionamento abusivo com o também poeta Ted Hughes, infinitamente menos talentoso do que ela, mas que tentava fazer com que ela achasse o contrário.
Pior que funciona
O pior desse tipo de comportamento é que ele costuma funcionar. Já vi muita mulher ir parando aos poucos de se achar inteligente ou boa no que faz por causa desse tipo de relacionamento.
E, não, eu nunca vi na vida uma mulher fazer o homem se achar burro. E também nunca vi uma mulher dizer: "fico admirada como você tem amigos inteligentes." Pode acontecer, mas acho que é mais raro, inclusive porque a maioria de nós tem dificuldades de se achar inteligente, como se sabe.
Se seu marido, namorado tentar fazer isso com você: NÃO ACEITE. Uma pessoa que precisa te colocar para baixo para se sentir o "o bacanão" não é o tipo de pessoa que vai te fazer bem, garanto.
E acho que, no caso do diplomata agressor, todos nós já percebemos, a menina que o denunciou não só é muito inteligente. Mas também é extremamente corajosa. Que ela sirva de exemplo.