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Nina Lemos

Famosas solidárias contra assédio merecem respeito e admiração, não ataques

Nina Lemos

14/11/2018 04h00

Foto: Reprodução

Durante um bom tempo, apenas algumas famosas superengajadas e daquelas que marcaram história (viva Leila Diniz e Marieta Severo!) se manifestavam sobre assuntos polêmicos.

A situação mudou (no Brasil e no mundo). E, mais que nunca, atrizes, cantoras e famosas em geral usam o espaço que têm na mídia e nas redes sociais para darem opinião sobre o mundo. Superlegal, né? Além de corajosas, inteligentes, deixam claro que não são só bibelôs que estão ali para serem apreciados (e isso, por si só, já é uma parte importante do feminismo). Bonitinhas mas quietinhas? Isso é passado.

Esse é um momento especial para as mulheres do mundo, que estão mais unidas do que nunca.

No Brasil, as atrizes se uniram no movimento #ChegaDeAssédio desde o ano passado, quando uma coreógrafa fez uma denúncia de assédio contra o ator José Mayer. Nas eleições, muitas delas participaram do movimento #EleNão. Foram para a rua, mostraram as caras.

Essa semana, como não podia deixar de ser, Bruna Marquezine, Camila Pitanga, Fê Paes Leme, Patricia Pillar e muitas outras mostraram solidariedade à cantora Claudia Leitte, que, segundo elas, e muita gente que viu a cena gravada, foi assediada por Silvio Santos no domingo.

O apresentador legendário, importante e com muitos adjetivos positivos, disse que ficava excitado perto da atriz e ainda sugeriu que isso acontecia "por causa da roupa que ela estava usando." Estamos em 2018 e o vestido curto ainda leva a culpa. Difícil. Muito complicado, mesmo.

O que fizeram as colegas de Claudia? O que se deve mesmo fazer quando se é solidária. Avisaram que "se mexeu com uma, mexeu com todas". E o que aconteceu com elas? Foram atacadas na internet, claro. As moças foram chamadas, inclusive por muitas mulheres, o que é mais assustador, de hipócritas, fúteis, bobinhas.

Então, quando uma mulher se solidariza com outra que sofreu assédio ela é chamada de bobinha (um outro jeito de chamar de burra) por que têm opinião? Isso só mostra que o tal feminismo (da qual as famosas são "acusadas" de participar e por isso terem ficado "muito chatas") é realmente muito necessário.

Respeito, por favor

E tem um outro detalhe importante, que parece que é esquecido cada vez mais em tempos de redes sociais: você não precisa concordar com o que o outro diz. Inclusive, ninguém tem que concordar com ninguém. Agora, o que você faz quando não concorda? Ofende? Tenta calar, diminuir?

Como bem disse Taís Araújo, uma das que saiu em defesa de Claudia, "Respeito com as nossas, respeito com todas. Não nos calaremos, nós acolheremos".

As moças, sejam famosas ou anônimas, não vão voltar atrás. Ela não vão, de fato, se calar (mesmo sofrendo cyberbullying). Deve ser por isso que dói tanto…

Respeitem as minas, pô. Sim, assediar na TV é falta de respeito. E tentar silenciar chamando de burra também é…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.