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Nina Lemos

Brasileiras fazem 100% a mais do trabalho doméstico que os homens. Basta!

Nina Lemos

29/04/2019 05h00

(foto: iStock)

Sabe quanto uma mulher dedica por semana aos trabalhos domésticos? Em média, 21,3 horas por semana. E sabe quantas horas os homens gastam cuidando da casa? 10,9 horas. Sim, pessoal. Estamos diante deste absurdo: as mulheres brasileiras ainda gastam o dobro do tempo com as tarefas domésticas que os homens.

Esses dados foram publicados pelo IBGE no dia 26 e mostram uma realidade cruel: os números praticamente não mudaram em dois anos. Ou seja, por mais que a gente fale em "empoderamento", feminismo etc, a realidade brasileira ainda é, na maioria dos casos, aquela cena antiga: o homem fica sentado vendo TV enquanto a mulher cozinha e lava a louça e, claro, ainda traz um copo de água para o homem, que, coitado, não pode levantar da cadeira.

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"Ah, mas o trabalho da mulher é em casa." Quem dera! Se fosse sempre assim — e tem casos em que as mulheres sim, se dedicam exclusivamente a cuidar da casa e dos filhos (o que é um trabalho exaustivo) — estava ótimo. O problema é que a disparidade continua quando as mulheres trabalham fora. Nesses casos, elas trabalham 18h em casa. Os homens, 10h.

Ou seja: elas chegam do trabalho e continuam a trabalhar. A famosa jornada dupla. Cuidar da casa faz parte? Sim, claro. Mas é ÓBVIO que isso deveria ser obrigação dos dois, ou de qualquer adulto que divida um apartamento.

Não nascemos com um gene que nos faz cozinhar e lavar a louça melhor. Não, isso não é genético, nem venham. Mas olhem esses números: 95, 5% das mulheres declararam que elas faziam a comida e lavavam a louça. Enquanto apenas 60% dos homens declararam fazer o mesmo.

É uma piada antiga (e de mau gosto) mandar mulher lavar um tanque de roupa. Mas sabe qual é a realidade? Quem anda precisando de um tanque são os homens, sim, literalmente. E se você é mulher e seu marido cozinha ou lava a louça, saiba, você é privilegiada sim!

O que fazer diante desses números? Acho, sinceramente, que precisamos de uma mudança radical.

Homens, leiam esses números, conversem com os amigos, se olhem no espelho e pensem: "isso é justo?" "Você acha certo que a sua esposa cozinhe para você depois de dar duro no trabalho?" Poxa!

E, mulheres do meu Brasil, pelo amor, vamos parar de ser tontas. Mão de homem não quebra quando lava louça. Você não tem que fazer mais que os caras. O nome disso é exploração. Portanto, se recuse. Ele não vai morrer por causa disso, ele vai sobreviver! Não estou falando para não cozinhar de vez em quando, fazer um agrado. Nada disso. Estou falando que não é justo fazer o dobro, gente!

Uma das desculpas que mais escuto de homens (e de mulheres justificando a inutilidade dos seus maridos) é: "ele não sabe fazer". Pois bem, eu, mulher, cozinho super mal (como disse, não é genético). Mas sei ir ao supermercado, lavar a louça, cuidar do lixo e até cozinhar mal…  Então, meu marido cozinha na maioria das vezes. Cozinha, e eu cuido do resto. Não é tão complicado.

E na Suécia?

Justiça seja feita, no meu caso, sempre tive relacionamentos com caras que dividiam afazeres comigo. Mas, hoje, morando na Alemanha, vejo que a realidade aqui é bem mais tranquila para todas as mulheres. A Alemanha não é nenhuma Suécia (onde as mulheres "só" fazem cerca de 15% a mais que os homens), mas todo garoto aprende desde criança a colocar a louça na máquina e tem culinária na escola, assim como as meninas. Resultado: as mulheres na Alemanha "só" trabalham em casa cerca de 30% a mais que os homens. Eu já acho muito. Mas não é 100% a mais como o Brasil…

Não precisamos, e não vamos, virar a Suécia rapidamente. Mas podemos tentar melhorar aos poucos. E, claro, para isso vamos educar nossos meninos do mesmo jeito que educamos as meninas, claro. Nada de tratar os meninos como "reizinhos". Vai ser bom para todos. Acreditem.

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.