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Nina Lemos

O namorado possessivo que não aceita o fim do namoro pode te matar

Nina Lemos

20/05/2019 04h00

Cris Fraga/ Estadão Conteúdo

No dia 8 de maio Maira Dondoni, de 22 anos, foi morta. Motivo alegado pelo ex que a matou: ela não tinha aceitado um convite dele para sair. Ele não aceitava o fim e pronto, a matou a tiros. Simples e terrível assim.

O caso faze parte de um fenômeno alarmante no mundo todo, com destaque para o Brasil: muitas mulheres são mortas por esse motivo simples: terminar um relacionamento com um homem que não aceita o fim. Segundo levantamento feito pela Folha no Dia das Mulheres desse ano, essa é a segunda causa de feminicídios no Brasil. A primeira é o ciúme, a suspeita de traição.

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Não aceitar o fim de um relacionamento e ser uma pessoa ciumenta são duas atitudes intimamente ligadas, certo? "Se ela não for minha, não vai ser de ninguém mais", pensa o sujeito, que, muitas vezes, quando o caso se agrava, vira um assassino.

Um novo estudo divulgado nos Estados Unidos, país onde em 2018 cerca de 1,8 mil mulheres foram mortas (93% por parceiros ou exs) alerta para o risco. Os pesquisadores da Universidade de Washington publicaram em abril no "Jornal Americano de Pediatria" que um quarto das adolescentes mortas por parceiros no país morreram por esse motivo: ciúme e terminar um relacionamento.

Os especialistas declararam que essa é uma questão de saúde pública nos Estados Unidos. No Brasil, é o mesmo, como sabemos.

No caso dos Estados Unidos, alarmados, os especialistas pediram para que os pais, professores e a sociedade em geral olhem com atenção para garotas quando elas terminam uma relação e/ou estão envolvidas com um namorado ciumento. Afinal, essa é a causa de 27% da morte de adolescentes no país.

Nós, brasileiros, podemos (e devemos) estender esse alarme para nós.

O Brasil é o quinto país do mundo com maior numero de violência contra a mulher. Uma mulher é morta de maneira violenta no país a cada duas horas. Levantamento feito no mês de janeiro no país mostra que, de 179 de casos, 72% dos crimes tiveram como assassinos atuais ou ex-namorados das vítimas.

Estamos em risco. E nossas filhas e sobrinhas também. O que fazer? Muito.

Para começar, fiquem atentas, irmãs, fiquem atentas! É claro que não é todo homem que é um assassino, de jeito algum. Mas aquele cara que a controla, checa sua rede social sem sua permissão, tenta afastá-la dos seus amigos e reclama das suas roupas de um jeito agressivo pode virar, sim, um agressor.

Estudos mostram que, a maioria das mulheres que são assassinadas já havia sofrido agressão antes. Ou seja, não é normal um namorado dar um tapa ou um beliscão. Isso não deve jamais ser tolerado. Se você vir uma amiga passando por isso, converse com ela seriamente. O mesmo vale para filhas, filhas de amigas e todas as meninas ao nosso redor.

E também para os homens, claro. Não passe pano para o seu amigo que trata mal a namorada. Não ensine seu filho a ser possessivo.

Todos os estudos conectam esses números horríveis com uma sociedade machista, onde a mulher é vista como posse. Mudar isso é papel de todos nós. Todos os dias. É triste, mas os médicos americanos têm razão. Precisamos, sim, ficar de olho. Todos. E como diz um slogan dos anos 80, "Quem ama não mata". Se um namorado mostrar qualquer atitude violenta com você, o nome disso não é amor, mas agressão mesmo. Corra. Lolla, corra!

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.