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Nina Lemos

Campanha: nesse Dia dos Namorados, saia das redes sociais e vá transar!

Nina Lemos

12/06/2019 04h00

Ninguém precisa ver as cafonices que um casal faz junto, né? (Foto: Divulgação)

Hoje é Dia dos Namorados. Dia de sair para jantar com o amado, de ficar em casa de bobeira. Ou de ignorar a data, normal. Mas é também dia de ver Stories com mimos de quem recebeu algo dos amados, ver declarações de amor íntimas de pessoas que não conhecemos e fotos de apaixonados que parecem não ter problema nenhum de relacionamento (nem uma DR que seja).

E até de se sentir meio obrigado a fazer uma declaração de amor pública para agradar o parceiro (a) para que ele não fique chateado. Já que todo mundo faz, melhor fazer também.

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Hoje é dia de ver muito casal que nem é tão feliz assim (sabemos, quando somos amigos da vida real e ouvimos as confidências) postar fotos românticas ostentando uma vida maravilhosa juntos. Talvez eles façam isso para se convencer de que são felizes.

Lembro que a atriz e escritora Monica Martelli me contou uma vez que postava fotos dela com um ex (no fim de um relacionamento) e todos diziam que eles eram incríveis juntos, um verdadeiro "casalzão da porra". Eram tantas mensagens positivas que ela se convenceu que o relacionamento era bom por um tempo. Quem nunca? Entendo a Mônica. Muitas vezes a minha vida parece melhor nas redes do que é na realidade.

Mas, e o Dia dos Namorados? Bem, pelo menos no passado, esse era um dia em que os casais transavam. Nós, humanos, andamos fazendo pouco sexo. Pouquíssimo. Várias pesquisas mostram isso, e uma das causas é justamente o excesso de uso de redes sociais.

Então, minha modesta sugestão para esse Dia dos Namorados é que você ostente menos e transe mais. E não, não precisa postar foto do motel, ou da cama com rosas que você preparou se você gosta desse tipo de romantismo. Não precisa! Vou lembrar de novo nesse blog que o íntimo é intimo. Ninguém precisa saber que você vai transar. Ninguém precisa saber que você está muito feliz. E, na real, ninguém está nem aí, porque você não é tão importante, como, aliás, todas as outras pessoas.

Essas fotos, repito, servem para que as pessoas que não têm namorado, que estão brigadas com os pares etc. olharem e sentirem inveja. Se você está feliz de verdade precisa mesmo esfregar isso na cara dos outros? Você precisa mesmo ostentar? Não seria melhor dar atenção para o momento e dedicar um tempo para a pessoa que está com você?

Eu, pessoalmente, não acredito em dia dos namorados. Nunca gostei, independentemente de estar namorando ou não. Mas sei que tem gente que ainda:

1- Gosta de dia dos namorados (e tudo bem, se joga).

2- Sofre nos dia dos namorados por não ter namorado.

Meu conselho (que dou de graça) para os dois grupos é: desligue o celular! Há alguns anos, a MTV Brasil lançou uma campanha que dizia: "desligue a TV, vá ler um livro." Aproveito o mote para lançar uma campanha aqui para o Dia dos Namorados desse ano: "Desligue as redes sociais, vá transar." Se não tiver com quem transar, vá ler as noticias, ver série, encontrar amigos, ler um livro. Mas não entre nas redes sociais!

Como a maioria das pessoas do grupo 1 (os com namorado que gostam de celebrar a data) não vai ler essa coluna e seguir os meus conselhos, você vai acabar se magoando e acreditando que todos são felizes e você não (não é verdade, ninguém é totalmente feliz, guarde esse mantra).

Ostentação Vintage

Curiosidade para quem não lembra da vida antes da internet. Na minha adolescência (e na de quem tem hoje os seus 40 anos ou mais) não existia internet. Então, existiam dois tipos máximos de ostentação no Dia dos Namorados: mandar flores para a namorada na hora do recreio da escola, ou no trabalho (e a pessoa em geral fica superconstrangida) ou "colocar faixa."

Sim, as pessoas colocavam uma faixa, dessas em que hoje está escrito "queima total, pamonha 6 por 1" com declarações de amor escritas na frente da casa da pessoa amada ou de algum lugar que ela frequentasse, tipo o trabalho ou a escola.

Era um processo complicado, que envolvia pintar a tal faixa, levar uma escada de madrugada, pendurar. Essa era a maior ostentação amorosa existente. Ou seja, dava um trabalho danado. E o resultado nem sempre era bom (o recebedor da faixa em geral ficava bem constrangido, pelo que lembro).

Hoje, em um tempo em que para "fazer a faixa" só precisamos clicar ou postar uma foto no Instagram, será que perdemos todos o constrangimento? Entramos em uma disputa de quem é mais romântico, mais feliz, com o melhor dia dos namorados?

Não caiam nessa. Repito. Desligue a internet e vá transar. Ou desligue e vá ler um livro. Você consegue.

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.