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Nina Lemos

Tem gente defendendo Nazismo no Brasil? Como Europa lida com isso

Nina Lemos

18/12/2019 04h00

(iStock)

Essa semana, uma imagem perturbadora viralizou na internet. Nela, um homem está sentado em um bar em na cidade de Unaí, no interior de Minas Gerais, usava no braço uma braçadeira com uma suástica muito parecida com a insígnia que era usada pela SS (a terrivel organização armada do partido nazista).

Antes de tudo, isso é proibido pela lei brasileira. A "apologia ao nazismo" pode ser punida com prisão. Sobre o uso da suástica, a lei também é clara. "Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular, símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo" é considerado crime. Fim. Depois de muita reclamação, a polícia abriu inquérito sobre o caso em Minas. 

No mesmo dia, soube de casos de judeus sendo xingados no Twitter. O que é isso? Pessoas no Brasil (e em muitos países do mundo) estão perdendo a vergonha de reverenciar o nazismo? Estão se assumindo antissemitas (uma das bases do nazismo)? Estão brincando com isso?  Elas esqueceram do que se trata? Elas não aprenderam na escola?

Bem, se você pulou a lição, algumas informações básicas. A ideologia nazista foi responsável por um genocídio.  Entre o fim da década de 30 e o meio da década de 40, mais de 6 milhões de judeus foram mortos. As principais mortes foram de judeus, mas deficientes, gays e ciganos, entre outros "oponentes" do regime também foram perseguidos e mortos.

 Se você não sabe do que eu falo, pode, sei lá, ler os livros e os filmes que vimos na infância, como "Noviça Rebelde", "O Diário de Anne Frank" (sim, é básico). Ou assistir filmes como "O Pianista", um dos filmes mais tristes que eu já vi na vida e "A Lista de Schindler".

Desde criança sabemos que o nazismo deve ser repudiado. O que acontece com essas pessoas? Elas não percebem que esse crime é considerado o maior crime contra a humanidade acontecido em pelo menos 150 anos. 

Que o antissemitismo (ódio contra judeus, uma das bases do nazismo) precisa ser repudiado, que isso é criminoso?

Nazismo não é engraçado. É um dos assuntos mais sérios do mundo. 

Como é na Alemanha?

Moro há cinco anos na Alemanha, país onde a ideologia floresceu. Cerca de seis milhões de pessoas (judeus, homossexuais, deficientes)  foram exterminadas. O povo judeu, visto por Hitler como "mal da Europa" teve sua comunidade destruída. O fantasma do nazismo ainda assombra a Alemanha? Claro! E acho que vai assombrar para sempre, o que inclusive faz sentido, já que o maior crime contra a humanidade foi praticado aqui!

Mas, como se combate o nazismo na Alemanha? Com rigor. Se o sujeito que posa orgulhoso na foto fizesse o mesmo na Alemanha, ele seria preso na hora. Não tenho dúvidas. E, antes, claro, seria expulso do bar.

A lei é clara: símbolos de organizações inconstitucionais são proibidos. E, no topo da lista das proibições, está a suástica e a insígnia da SS e a tal saudação. Ou seja, o que o comerciante mineiro usou numa boa.   

Ficou famoso na Alemanha o caso de dois turistas chineses que que acharam "engraçado" fazer uma saudação nazista na frente do Parlamento Alemão, em Berlim.  Eles foram presos na hora, tiveram que pagar uma multa e foram convidados a deixar o país. Também em 2017, um turista americano foi agredido por passantes em Dresden (no leste da Alemanha) depois de fazer a saudação nazista.

Em 2011, um turista canadense foi preso pelo mesmo motivo.  Não existe piada, não existe nada que justifique uma coisa dessas.

Ano passado, uma terrível manifestação de ódio, contra imigrantes, tomou conta da cidade de Chemnitz, no leste do país. Os nazistas alemães em geral evitam fazer a saudação nazista, assim como usar imagens de Hitler (extremamente proibido) e a suástica (também proibida). Pois dois presentes na marcha fizeram a saudação nazista. Foram presos. Na semana seguinte, manifestações contra o nazismo aconteceram em toda a Alemanha. 

Cemitério vandalizado na França

Os casos, claro, não acontecem só na Alemanha e no Brasil. Mês passado, um cemitério judeu foi vandalizado na França.  Suásticas foram desenhadas em cerca de 90 túmulos. Terrível. O ministro francês do Interior Christophe Castaner definiu o vandalismo  no cemitério como "atos abjetos e repugnantes" . O presidente Emanoel Macron disse que "a França vai combater  o antissemitismo "até os nossos mortos possam dormir em paz".

Entre as medidas, estão, por exemplo, museus que contem a história do holocausto, como acontece na Alemanha. Para que as pessoas vejam o horror e não repitam.  Na França, assim como na Alemanha, existem monumentos em ruas de onde pessoas foram deportadas durante a ocupação nazista, para que as pessoas lembrem que isso aconteceu.

A luta contra o nazismo, como sempre se diz, é diária. Ele não pode ser tolerado. E, falando nisso, se você vir símbolos nazistas na internet ou na vida real, denuncie. É crime.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.