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Nina Lemos

Caso Gugu: como "felicidade de capa de revista" pode enganar

Universa

07/02/2020 04h00

Nas capas das revistas, eles eram um casal feliz, praticamente uma família margarina. O casal em questão era formado por Gugu Liberato e a médica Rose Miriam que, como apontou o colega Maurício Stycer, colunista do UOL, estamparam juntos mais de uma dezena de capas da revista "Caras." Nas revistas e nas redes sociais, estavam juntos e radiantes.

A imagem que eles vendiam era a de uma família perfeita. Risos calmos, ondas do mar, filhos no colo. Eles se mostravam uma família dos sonhos, assim como muitos outros famosos fazem em revistas de celebridades.

Mais recentemente, estrelas e anônimos passaram a fazer isso também nas redes sociais – espécie de revista de celebridades mais democrática, onde todos podemos exibir nossas vidas maravilhosas e perfeitas.

O que acontece por trás dessas imagens de famílias impecáveis? As gramas são, assim, tão verdes? O caso de Gugu e Rose Miriam é um exemplo dramático do quanto essa felicidade pode ser fabricada.

Quanto mais Rose e a família de Gugu brigam pela herança, mais mágoas aparecem. É muito triste ver que a harmonia que parecia existir entre eles (independente de dormirem juntos ou não e de qual era o tipo de acordo) caiu tão rápido. O retrato que vemos agora não tem cores luminosas.

O que parecia uma união tranquila, agora, virou uma espécie de "casos de família", onde o filho de Gugu, João Augusto, um jovem de apenas 18 anos que acabou de perder o pai, procura a polícia para tirar um tio de casa. Triste!

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Na mais recente parte do processo, a pensão de Rose Miriam foi cassada e seu pedido de reconhecimento de união estável, rejeitado. Novos capítulos devem vir, provavelmente tristes e muito diferentes das imagens que a gente via.

Gugu era famoso por não expor sua vida pessoal, mas ele expunha, sim, uma parte. E não é assim que todos nós fazemos? A gente escolhe o que mostrar, edita. No caso do apresentador, em fotos de família, Rose Miriam estava lá. As capas da "Caras", por exemplo, foram usadas em seu Instagram para comemorar o aniversário do filho João. Eles aparecem juntos, felizes, com o bebê.

Em um Dia das Mães, ele homenageou dona Maria do Céu e, também, Rose Miriam. Ok, nada mais justo! No Natal de 2018, antes da tragédia que o vitimou, Gugu postou fotos da família reunida. Independente do tipo de contrato que eles tinham, tudo parecia harmônico.

Mas, agora, quando a briga esquenta – e piora – e sua família diz que "eles não tinham nada", cabem algumas perguntas. Se não havia nada entre eles, por que apareceram na "Caras" como família feliz? Por que falaram que era namoro? Quem eles queriam enganar? Por quê?

Claro que nenhum famoso tem obrigação de falar sobre sua vida pessoal. De jeito nenhum! Mas eles postaram para a revista porque quiseram. Pelo jeito, tentaram vender uma imagem feliz e "no padrão", o que torna tudo mais triste agora .

Qual seria o jeito de evitar? Dar a real, falar sobre que tipo de contrato tinham. "Ah, mas eles não devem explicações…" Verdade! Mas aí era só não ter aparecido nas capas de revista.

O que vemos em uma foto, muitas vezes, está longe da realidade. Mesmo assim, muitos insistem em vender a imagem da família margarina, talvez por vontade de se encaixar em um modelo familiar tradicional. Até dá para entender, em uma sociedade conservadora como a nossa, mas vale a pena? O caso de Gugu mostra que não.

O dano é muito maior depois que se vende uma coisa que, pelo jeito, não era real. Todos sofreriam menos se a imagem da família perfeita não tivesse sido explorada. Talvez até a briga judicial fosse mais fácil.

Que sirva de lição para outros famosos e até para nós, anônimos: por que mostrar uma família perfeita de mamãe, cachorro, filhos e sorrisos? Para provar para a sociedade que somos "normais"?

Quando comento um problema de um casal de amigos com uma amiga solteira, ela diz: "Mas eles não eram superfelizes? Eu vi no Instagram!" Pois é, muitas vezes, não. É só imagem mesmo…

Seria mais saudável se todos aceitassem que não existe uma caixinha em que temos que entrar para "sermos sérios" e aceitos como família.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.