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Nina Lemos

O que Bial e Tiago têm em comum? Eles confundem crítica com "linchamento"

Nina Lemos

13/02/2020 04h00

Nos últimos dias, o apresentador Tiago Leirfert  tem sido muito criticado. Ele apresenta o Big Brother Brasil, ou seja, é normal que as pessoas falem mal dele, ainda mais em uma edição onde as coisas estão quentes (com uma briga grande entre mulheres e homens machistas, apelidados de Chernoboys).

Ontem a hashtag #ForaTiago ficou o dia todo nos Trend Topics Brasil. Chato. Mas normal, não? Faz parte do jogo e isso pode até ser visto como prova de sucesso do programa (afinal, as pessoas estão vendo, comentando).

As críticas contra Tiago aumentaram a partir de segunda, depois de seu discurso na saída de Hadson. Olhei as críticas com atenção. Na maioria esmagadora, eram memes engraçados (alguns nem tanto) e sugestões de substitutos para ele, na maioria mulheres, como Bruna Marquezine, Titi Muller. Pois parece que Tiago se magoou seriamente. Ele escreveu um textão no Instagram sobre linchamento virtual. 

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"Não acredito que destruir a vida de uma pessoa com linchamento virtual resolva o problema original. Pelo contrário! Ao tentar resolver o problema espancando, você acaba criando outro, gerando ainda mais ódio e violência… (…) Eu jamais vou linchar uma pessoa e não sou juiz do mundo. Não esperem isso de mim."

Bem, bonitas palavras, eu concordo que linchamento é terrível. Mas… isso está acontecendo com ele? A vida dele está mesmo sendo destruída? Bruna Marquezine, uma fã dos programas, reagiu: "Aquilo foi para mim? Não pratiquei linchamento on-line. Seria um tanto exagerado dizer isso. Existe uma grande diferença em fazer uma crítica ou discordar de algo dividindo sua opinião (quando cabível) e fazer comentários maldosos ou iniciar um linchamento virtual. Eu sei bem." Sabe mesmo. Ela é mulher e famosa. Vive sendo chamada, entre outras coisas, de "anoréxica", uma doença séria.

#VoltaBial?

Muitos dos que criticam Tiago pedem a volta de Pedro Bial, que apresentou o BBB por 14 anos. Criaram a hashtag #VoltaBial. De novo, acontece.

Mas não é que Tiago e Bial têm algo em comum, além de apresentarem "a casa mais vigiada do Brasil"? Os dois mostraram, na mesma semana, como alguns homens têm dificuldade para aceitar críticas. E logo falam que estão sendo linchados, atacados.

Espera, ser criticado é "linchamento" ou eles, homens brancos (sempre no comando, já cantava Caetano), não estão acostumados a lidar com críticas?

Com Pedro Bial aconteceu semana passada.  Depois de ser criticado por ter dito, entre outras coisas, que a diretora Petra Costa "miava" e tinha feito um filme para "agradar a mamãe", foi, de fato, muito criticado (inclusive por essa blogueira). Resultado. Ele publicou um texto domingo no jornal "O Globo" onde falava que tinha sido 'linchado".

Tiago e Bial que me perdoem, mas vocês não foram "linchados", não. Essa expressão, inclusive, é controversa, já que remonta a linchamentos (físicos) de negros, judeus, gays. 

Bem-vindos ao mundo digital

Hoje, "linchamento virtual" tem sido usado a rodo. Vamos falar que se trata de uma modalidade de ataque violento, cheio de mentiras e onde tentam rebaixar o alvo moralmente, ameaçar de morte etc etc. Infelizmente, esse tipo de ataque tem sido muito comum no Brasil. É o que aconteceu com a jornalista Patricia Campos Mello, vítimas de Fake News contra sua moral. Isso é crime e é serio.

E… Nada disso aconteceu com Tiago (se algum tuiteiro se empolgou, foi exceção). Ou com Bial. Eles não foram moralmente atacados. Ainda bem. Afinal ninguém merece passar por isso. 

Agora, críticas existem. E também, infelizmente, existem xingamentos, ameaças, ataques a nossas formas físicas erc.  

A gente que "mexe com internet" e é mulher (estudos mostram que 75% das mulheres no mundo já sofreram bullying na internet) sabe do que está falando.

Bial e Tiago, cada um com seu talento, deveriam aprender a ouvir críticas. Ou a ignorá-las. Dica de quem é expert no assunto: em ambientes virtuais, a gente não busca o nosso nome no Google se quiser se proteger e não ler um monte de comentário falando mal da gente. E, vão por mim: depois passa.

Nós, mulheres, já nos acostumamos às críticas. Quanto aos meninos, sempre é hora de aprender. Faz parte.

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.