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Nina Lemos

Fábio Assunção fala sobre leituras em seu Instagram: "quero levar cultura"

Nina Lemos

20/03/2020 04h00

No início da semana, ao saber que a série que está gravando, "Fim", seria interrompida, o ator Fábio Assunção não teve dúvidas. Foi para casa, se recolheu em quarentena, dispensou quem trabalha com ele e avisou pelas redes sociais que passaria a ler textos diariamente para dividir com as pessoas que estivessem de quarentena em casa. No texto que postou, escreveu também que esse era um momento de solidariedade e chamou todo mundo para pensar soluções. "É na dor que crescemos".

Na quarta-feira, Fabio leu um letra de Zélia Duncan. O vídeo teve mais de 500 mil visualizações. Ontem, escolheu um texto de Fernanda Young, que já foi visto por 400 mil pessoas. "Estou fazendo o que vários colegas fazem pelo mundo, tentar oferecer cultura para as pessoas. O que estou fazendo na verdade é muito pouco". Leia, abaixo, a entrevista que o ator deu para o Blog.

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Como você teve a ideia de gravar textos todos os dias? Qual seu objetivo?
Fabio: Ficando em casa as pessoas acabam se abastecendo com algum entretenimento, ou seja, com cultura: filmes, novela, música, literatura. Isso é mais uma forma de agir em coletivo, de oferecer cultura. Eu – e vários colegas, aliás – estamos no movimento de oferecer cultura para quem está em casa. Imagino que logo não poderemos sair de casa de jeito nenhum. A tendência é que a gente sofra medidas mais proibitivas.  Se vários colegas fizerem isso, são mais opções. Já existem sites em que oferecem orquestras tocando ao vivo. Como artista, se você não pode trabalhar, fazer suas peças, seus shows, gravar suas séries, pode criar uma outra maneira de falar com o seu público. O que fiz é muito pouco. Vou ler um texto por dia. Mas existem várias opções culturais  para a gente atravessar esse momento com mais leveza.

Você disse que não está mais gravando a série que estava fazendo. Como tem passado por esse momento?
Fabio: A série (Fim, parceria da Conspiração Filmes com a Globo) foi interrompida e não tem data para voltar. Liberei as pessoas que trabalham aqui em casa. O problema são as pessoas que ainda são obrigadas a trabalhar fora de casa. A gente vê fotos de metrô lotado. É muito preocupante isso. É preciso liberar as pessoas do trabalho e, claro, elas precisam ser pagas. Mas, para isso, tem que ter um governo, que é óbvio que não é o que temos, para subsidiar.

Eu estou aqui me abastecendo de cultura, mantendo minha atividades físicas. Estou me informando. Estou buscando soluções para uma coisa que pegou a gente de surpresa, mas que acredito que tiraremos grandes lições. Sou taoísta, do ponto de vista de filosofia. Acho que tudo tem dois lados, um bom e um ruim. Então, não estou otimista nem pessimista.

Como você escolhe o conteúdo?
Fabio: 
Eu teria uma infinidade de coisas para ler. Estou optando por coisas curtas, que tenham muito significado. A ideia não é, como no caso da Filarmônica, fazer um espetáculo de 30 minutos, mas dar uma pincelada em coisas. Estou pensando em fazer mais de uma vez por dia. Não teve nenhum preparo, de luz, de nada. Eu só coloco o celular na mesa e gravo. Acho que isso cria um canal direto com as pessoas. Não há produção nem conceito nesse conteúdo. São coisas fortes, diretas. Gravei uma letra da Zélia Duncan, por exemplo, que são palavras de muito conteúdo, mas acessíveis.

No mundo todo há uma preocupação com artistas e pessoas do meio cultural, que são autônomos e por isso vão sofrer muito economicamente com a quarentena. Qual você acha que seria a solução para isso?
Fabio: Acho que o ideal é que a gente tivesse nesse momento um governo que desse um auxílio para as pessoas que vivem de trabalhos informai, e que não estão podendo trabalhar, gerar renda. Mas é claro que não temos esse governo. Tenho uma colega, por exemplo, que é atriz e trabalha com eventos e tinha quatro agendados para as próximas semanas. Todos foram cancelados e ela ficou sem renda. É uma situação muito difícil. Deveria existir um fundo para ajudar quem trabalha em ambientes coletivos e não vão poder trabalhar, isso é óbvio. Por outro lado, vemos movimentos interessantes de solidariedade no mundo e alguns do Brasil também, A gente tem que pensar, por exemplo, que não dá para cobrar o aluguel de uma pessoa se ela não pode trabalhar… Não são só os artistas, são todos os trabalhadores informais. Eu, por exemplo, liberei quem trabalha comigo e vou pagar, claro. Mas acho que esse é um papel do estado. Não estou vendo nenhum movimento em relação a isso. Pelo contrário, estou vendo um presidente dando risada. É um país desgovernado.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.