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Nina Lemos

Depois das fake news vem a moda da falsa acusação de estupro?

Nina Lemos

23/06/2020 04h00

O ator Colin Sprouse foi acusado de abuso sexual por uma conta robô no Twitter. (Divulgação)

Acusação de estupro é uma coisa gravíssima e que precisa ser feita com seriedade. Um dos motivos para isso: como se sabe, mulheres (e homens também) que sofrem abuso, além de machucadas, correm o risco de, quando denunciam seus agressores, não serem levadas a sério.  "Será que ela estava bêbada?" "Ela disse mesmo que não queria?" são algumas das frases que vítimas escutam depois de fazer uma denúncia.

Fica ainda mais difícil quando o acusado é uma pessoa famosa. "Ela só quer aparecer". "Ela quer dinheiro" são algumas das coisas que essas mulheres têm que ouvir. Por isso mesmo, nós, mulheres (e amigos da causa feminista) aprendemos a repetir a frase "nunca se deve duvidar da vítima."

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Agora, o que fazer quando as supostas vítimas são pessoas anônimas que criam perfis na internet e acusam pessoas sem provas? Complicado. E, o pior: esse tipo de denúncia, com todo jeito de "fake news" parece estar virando modinha.

Durante o último fim de semana, os atores Cole Sprouse, Lili Heihar, KJ Apa e Vanessa Morgan (todos do elenco da série Riverdale) e o cantor Justin Bieber foram acusados por perfis anônimos, criados só para fazer as denúncias.

Todos os acusados negam as alegações e, alguns dos perfis que fizeram as denúncias foram desativados. Um deles (que acusou o ator Cole) chegou a dizer que tudo era uma brincadeira, para mostrar o quanto as pessoas acreditavam em qualquer coisa!

Outro motivo que fez os fãs desconfiarem da veracidade das denúncias: as contas que fizeram as acusações têm nomes de usuários parecidos, foram criadas só para isso e… bem, vieram com acusações distintas para atores do mesmo seriado. Isso seria uma coincidência no mínimo estranha.

O caso de Justin Bieber é mais complicado.  Uma denúncia veio de um perfil anônimo, que foi deletado. A segunda é de um pessoa real. E agora? As denúncias devem, sim, ser investigadas. Mas vocês entendem que mesmo se for verdade vai ficar mais difícil de provar? 

Criar perfis anônimos para fazer denúncias é algo seríssimo. E, claro, inventar, então, é criminoso (com os acusados e com todas as vítimas do mundo).

E se essa moda pega? Olha o tamanho do perigo disso! Depois da popularização das fake news teremos essa categoria, as denúncias fakes de estupro e assédio?

Isso banaliza as alegações de estupro e, ainda, torna a posição das vítimas ainda mais complicada. Se as pessoas fazem denúncias falsas, quando vamos saber se uma denuncia é real? 

A vítima que toma uma coragem gigante de fazer uma denúncia, mexendo em feridas que nem podemos calcular o quanto doem, vão ser chamadas mais ainda de mentirosas? Olha o tamanho do desserviço!

Tomara que essa "moda" não pegue. E, claro, nós, que usamos rede social, devemos ser super cautelosos na hora de lidar com denúncias. Não podemos sair dizendo que é mentira. E nem espalhar como se fosse verdade…

Para lidar com denúncias que podem ser falsas temos que exercitar comportamentos difíceis de ter na internet: calma e responsabilidade. 

E por que uma pessoa criaria uma mentira dessas? Oras, porque tem muita gente usando a internet, essa invenção maravilhosa, para atacar e brincar com a vida dos outros. O anonimato dá poderes incríveis para muito irresponsáveis… Fiquem atentos.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.