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Nina Lemos

Michelle já quis jogar Obama pela janela. Casados em isolamento entendem

Nina Lemos

10/09/2020 04h00

Reprodução
"Houve momentos em que eu quis jogar o Barack pela janela." A declaração foi dada por Michelle Obama, ex-primeira-dama dos Estados Unidos. Sim, ela falava sobre o ex-presidente, com quem é casada há 28 anos. Michelle e Barack Obama formam um casal estável e querido no mundo todo. Mas a vida real não é uma propaganda de margarina. E Michelle faz um baita serviço ao deixar isso claro.

Michelle fez a revelação (que não surpreende ninguém que seja casado há mais de cinco anos) no "The Michelles Obama Podcast", programa de áudio que mantem desde de julho desse ano e recebe convidados para falar de assuntos como política, relacionamento e racismo.

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Nesse episódio recente, Michelle falava sobre casamentos e deu seu exemplo pessoal. "Falo isso [que já quis jogar o marido pela janela] porque você precisa saber que os sentimentos vão ser intensos. Mas isso não significa que você deva desistir." Para quem acha que esse momento dura alguns dias e é raro, Michelle deu a real: "Essas fases podem durar um bom tempo. Podem durar anos", declarou.

Obviamente nem Michelle, nem eu, estamos fazendo apologia da violência doméstica e sugerindo que alguém seja literalmente defenestrado. Em caso de qualquer ameaça, busque ajuda e chame a polícia.

O ponto aqui é que mesmo nos relacionamentos mais saudáveis dividir uma casa com alguém, uma vida, filhos, não é fácil. Em tempo de quarentena, então, é quase impossível. Por isso, a mensagem de Michelle não podia ser mais oportuna.

Nenhuma pessoa casou pensando em ficar trancado 24 horas com outra. No caso do Brasil, tenho muitas amigas e amigos que estão trancados com os parceiros há seis meses. Muitos deles têm filhos em idade escolar. E, claro, os filhos não estão indo a escola. Não, ninguém pensa em constituir família pensando que terá que conviver com o parceiro e os filhos 24 horas por dia em casa. Tenho certeza que essas pessoas já tiveram vontade também de jogar os filhos pela janela. No meio do isolamento, quem não se trancou no banheiro para ficar sozinho ?

Bem, nessas horas, quem pegou o telefone (que é o que todos fazemos atualmente) deu de cara com imagens de famílias vivendo o idílio, fazendo pão, tomando café da manhã junto. Os namorados e maridos das conhecidas e famosas parecem até Rodrigo Hilberts, montando o próprio forno para depois fazer a própria pizza. Atenção: aquilo ali não é a real. Ninguém posta a hora da briga e nem o momento em que está trancado no banheiro querendo escapar de todos.

"Em qualquer relacionamento tem hora que não suportamos o outro", diz a realista Michelle, jogando a realidade na cara dos muito românticos.  É verdade. E mais vale a gente assumir isso do que ficar: 1. culpada. 2.  achando que só acontece com você. No caso, lembre, você também é insuportável de vez em quando. Todo mundo é.

Claro que não existe fórmula do tipo: "como salvar seu casamento na quarentena." Todas elas são mentirosas. Mas saber que esse tipo de coisa acontece com todo mundo ajuda. E muito.

Essa não é a primeira vez que Michelle presta um serviço na quarentena. Recentemente, ela contou que passa por momentos "próximos a depressão" durante a pandemia e também por conta dos conflitos raciais nos Estados Unidos. Se todas as celebridades fossem como Michele,  e não ficassem,  por exemplo, dizendo o quanto são "gratos ao momento mágico do isolamento"  esses dias pesados (em todos os sentidos, não só no caso dos relacionamentos) não seriam melhores. Mas sem cobrança de estar bem o tempo todo, talvez eles fossem mais fáceis…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.