Meia hora no Instagram basta para a mulher ter vergonha do próprio corpo
Passar meia hora olhando fotos no Instagram é o suficiente para que uma mulher sinta raiva e vergonha do seu corpo. Não sou eu que estou dizendo, mas um estudo divulgado pela "Butterfly Foundation", o maior instituto contra desordens alimentares da Austrália. A pesquisa concluiu que, quanto mais as mulheres olhavam perfis de musas fitness, com menor auto-estima corporal elas ficavam. Não fiquei surpresa.
Claro que é fácil começar a achar defeitos em si mesma depois de ver imagens de corpos mega esculpidos, barrigas negativas e um estilo de vida cheio de #foco e #determinação.
Mas vou além.
No que depender de mim (e da maioria das pessoas que conheço), 30 minutos vendo o Instagram de gente com casa impecável (#homeSweetHome), trabalho perfeito (#IloveMyJob) e familia "perfeita" são suficientes para que eu comece a me sentir perdedora e a achar que minha vida está toda errada.
Claro que é só imagem. Claro que aquelas vidas não são perfeitas. A gente sabe disso. Mas na prática, depois de poucos minutos vendo essas vidas todas bem arrumadas e editadas, o peito aperta e uma voz começa a berrar na minha cabeça: "infeliz, perdedora!".
Não sou só eu. Lembro de uma amiga que mora na Suíça e vivia comparando sua vida com a dos amigos no Brasil (e sim, o país já estava em crise). "Todos lá estão ótimos, felizes", ela dizia. "Como você sabe?", eu perguntava. "Ah, eu vi no Instagram". Lembrei para a minha amiga que todos os amigos do Brasil deviam olhar as fotos dela e pensar o mesmo: "ela que é feliz, vive na Suíça e tem filhos lindos". A grama do vizinho é mais verde, ainda mais que tem o filtro Amaro.
A vida é uma cafeteria quebrada
Enquanto escrevia esse texto, resolvi checar o Instagram. Em uma segunda-feira de manhã, no meu feed, que mistura amigos e celebridades, as pessoas já tinham corrido vários quilômetros, tomado café da manhã em mesas bem arranjadas com porcelanas lindas. Algumas tinham recebido flores.
Enquanto isso, eu acordei correndo e atrasada. Fiz café com uma amiga e a alça da cafeteria quebrou. Tivemos que tirar o café do fogão com duas mãos, envolto em um pano de prato. Assim é a vida real: feia, caótica e improvisada. Mas no Instagram as cafeteiras são todas lindas e italianas. As canecas são novas e têm inscrições como "seja grato, bom dia".
No caso do mal causado por ver imagens de musas fitness, a associação Butterfly criou um movimento para que mulheres postem fotos de seus corpos normais com a tag: "IloveMybody", contando o que gostam em seu corpo.
No caso do mal causado pela perfeição da vida, poderíamos começar a postar fotos de coisas dando errado com a tag #somosTodosPerdedores.
Mas será que cola? Será que conseguimos parar o efeito bola de neve de:
- ver o Instagram dos outros e se sentir um lixo.
- postar uma foto maravilhosa para mostrar que não somos um lixo?Eu sei, eu poderia apenas parar de olhar. Mas quem disse que eu consigo? Quem disse que largar droga é assim tão fácil? Só me resta repetir o mantra: "Não é vida, é Instagram. Não é vida, é Instagram". Isso vale para o corpo, as casas, as famílias perfeitas, as cafeteiras e as canecas…