O novo amor da Fátima e o machismo de boteco que vem das mulheres
Como todo o Brasil sabe, a Fátima Bernardes está namorando um homem mais jovem que ela. A notícia, como se diz por aí, quebrou a internet. Tanto que, aqui estou, também escrevendo sobre o assunto.
Não que o fato de a apresentadora, de 55 anos, ter um novo relacionamento me surpreenda. O que esperávamos? Por ser uma mulher "mais velha" ela teria que se trancar em casa, se dedicar só aos filhos e esperar pela chegada dos netos? Enquanto isso, claro, seria natural que seu ex, William Bonner, de 53, continuasse aproveitando a vida, com uma namorada bem mais nova?
E não, isso não quebraria a internet. Bonner é homem. O que se espera quando um homem de meia idade se separa é mesmo que ele arrume namoradas mais jovens e bonitas.
Fátima é uma mulher inteligente e interessante. Claro que ela namoraria de novo! Mas ai, outro escândalo: ela está namorando um cara gato. E ela também é super gata, veja bem! O rapaz é 25 anos mais novo. Gritos da torcida, histeria generalizada.
A vingança do "novinho"
Para boa parte de nós, mulheres, o novo namoro da apresentadora virou uma grande celebração. Parecia que ela estava se vingando por todas nós. "Assim que se faz, Fátima! Isso mesmo!"
Nos empolgamos tanto com a nossa sede de vingança (contra os caras que nos trocam por mais novas, contra o machismo, contra um monte de coisa, a lista é infinita) que perdemos a mão. Parecia que nosso time tinha ganhado. Aeeeeee!
E logo nós, mulheres que reclamam do preconceito contra a idade, começamos a agir como homens machistas de boteco. "Aê, se deu bem, pegou um novinho!". Memes e mais memes tomaram conta da rede mostrando o quanto Fátima tinha subido de nível.
O Zezé di Camargo que habita em nós
Epa! Mas isso não é exatamente o que condenamos em caras tipo o Zezé di Camargo, que se separou da mulher de anos e sai por aí falando que panela nova é que faz comida boa?
O termo "novinha" surgiu nas letras de música e vem recheado de uma carga pesadíssima. "As novinhas piram em mim". "Tô pegando uma novinha", diz o cara para os camaradas, sendo péssimo com a menina mais nova que ele (que não deveria ser um pedaço de carne ou um troféu) e com as mais velhas ("aquelas carnes velhas"). Poucas coisas são mais nojentas do que homem que abre a boca para falar em "novinha". Vocês me desculpem a veemência.
Mas aí, pronto, fazemos igual. Bonner vira o caído enquanto o advogado gato por quem a Fátima se apaixonou vira a prova de que existe luz no fim do túnel. E usamos e abusamos da tal palavra: "o novinho".
Transformamos Bonner, citando novamente Zezé di Camargo (nunca pensei que fosse fazer isso na vida) em um "cavalo velho" (sim, o sertanejo usou essa analogia para falar o quanto estava feliz com a nova namorada logo depois de se separar da Zilu).
O ageísmo está dentro de todos nós e vez ou outra aparece gritando. Até eu, confesso, no primeiro momento me diverti com a notícia. Até que pensei; "Epa!".
Quanto à Fátima, que seja feliz. Seu relacionamento não é da nossa conta. E, sinceramente, que diferença faz a idade da pessoa para que a gente tenha ou não um bom relacionamento?
Pois é. Nenhuma.