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Nina Lemos

Barbie ganha namorada, mas segue loira, magra e torturando as meninas

Nina Lemos

04/12/2017 13h13


Quando vi a imagem da Barbie, a boneca, ao lado de uma "amiga" no Instagram, usando camiseta com os dizeres: "loves wins", um bordão da causa gay, achei fofo. Também pensei em certos grupos do Brasil que a qualquer coisa saem gritando: "Pedofilia! Pedofilia!" em exposições de arte.

Para esses grupos, aviso, a "conspiração-gayzista-pedófila" é mundial. E sim, a Mattel, a fabricante da Barbie, lançou uma campanha no Instagram onde a Barbie aparece com a tal "amiga" em cenas cotidianas e tudo indica que, sim, nessa campanha, a Barbie é gay.

Pode ser que ano que vem as pessoas possam comprar barbies lésbicas.

Estão pensando que somos bobos?

A Barbie amiga da causa gay aparece no mesmo ano em que a empresa lançou a primeira Barbie que usa um hijab, um véu islâmico, em homenagem à esgrimista muçulmana Ibtihaj Muhammad. Um ano depois de a fabricante de brinquedos lançar a linha "fashionista", com bonecas fora do padrão das mulheres, hum, Barbies. Na linha especial, existem bonecas menos anoréxicas, algumas mais baixas, negras, morenas. Muito legal.

Mas a Barbie, aquela que a maioria das meninas acaba desejando um dia, continua alta, loira, magra, soberana. Completamente fora da realidade de qualquer menina. Elas brincam de ser Barbie, mas nunca serão como elas.

Cientistas já estudaram o corpo da Barbie e concluíram que se ela fosse humana, para ter aquela cintura, não teria costela. A análise do corpo da boneca através dos tempos mostra que ela emagrece a passos largos.

A Barbie aparecer como apoiadora da diversidade parece uma piada depois de 58 anos de um padrão massacrante. Estão pensando que somos bobos?

Ah, mas têm as linhas especiais…Sim, mas elas são um cantinho da prateleira escondida enquanto a grande linha de produção continua fabricando loiras brancas e magrelas a longa escala e espalhando um padrão de infelicidade literalmente mundo a fora.

Por que a Barbie posa de diversa?

É muito bizarro pensar que nós, mulheres do Brasil, crescemos brincando de ser uma coisa que jamais seríamos. Loiras, altas e magras? Só se passássemos a vida em meio à cirurgias plásticas, o que, inclusive,muitas de nós fazem. O Brasil é o país campeão de procedimentos estéticos do mundo, sempre bom lembrar, ficando atrás apenas dos Estados Unidos (a terra Natal da Barbie).

Mas por que a Barbie agora posa de diversa? Ora, o consumidor mostra (ainda bem) que não aceitará padrões irreais por muito tempo. O mercado, do qual faz parte a Mattel, apenas tenta correr atrás do prejuízo. Tudo bem, já é alguma coisa.

Mas, Barbie, amiga, para ser exemplo de diversidade vai ter que fazer mais que uma camiseta. Arrume umas amigas que não são tão magras de vez em quando, tá? Fica a dica.

 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.