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Nina Lemos

Jennifer Aniston e o mito das mulheres que "não têm sorte no amor"

Nina Lemos

21/02/2018 04h00

"Tadinha, ela não dá sorte no amor". Você já deve ter ouvido ou lido isso algumas vezes e, aposto, sempre no feminino, já que esse tipo de "pobre coitada", em 99% dos casos, é mulher.

A moça "azarada" muitas vezes é uma pessoa feliz dentro do possível, com um trabalho ok, amigos legais. "Tadinha, não dá sorte no amor", cochicham.

Raramente (tipo nunca?) ouvimos esse tipo de comentário quando se trata de homem. "Tadinho do George Clooney, ele não dá sorte no amor". É uma frase que provavelmente nunca foi pronunciada na história da humanidade. E você pode trocar o Clooney pelo seu primo ou amigo bonitão. Eles, no geral, estão aproveitando a vida. Livres, soltos. Que maravilha!

Isso pulou na minha cara (de novo) por meio da seguinte manchete em um jornal sério: "A má sorte de Jennifer Aniston no amor."

Jeniifer, a atriz linda, rica, privilegiada e inteligente se separou do ator Justin Theroux depois de um relacionamento de sete anos. Normal. Acontece. Isso não é falta de sorte, isso é da vida. E um m relacionamento durar sete anos é bastante, não? Mas, mesmo se fossem sete meses, uma relação funcionar por anos (ou para sempre) não tem nada a ver com sorte, como sabemos.

Sorte no amor é coisa para quem ainda acredita em príncipe encantado bonitão que vai salvar a donzela.

Principe alcoólatra

Depois da separação de Jennifer, começaram os rumores. "Estaria ela voltando para o seu ex, Brad Pitt?" A galera torce, afinal, nada melhor para um perfeito conto de fadas. A donzela, abandonada pelo principe, é resgatada pelo próprio anos depois.

Detalhe: esse principe se separou porque abusa de drogas e álcool e agrediu o próprio filho. Mas que partidão, né?

Nesse meio tempo, ninguém ficou com pena de Brad Pitt, apesar de alguém dependente de drogas merecer, sim, nossa compaixão.

A história de Jennifer serve como exemplo para o que rola aqui, na nossa vida nada glamourosa de cada dia.

Nunca aconteceu de torcerem para que você voltasse com um ex problemático porque "pelo menos você estaria com alguém"? Nunca falaram de você, ou da sua amiga, que casou depois dos 40 anos que, finalmente, "ela deu sorte"?

No caso de Jennifer, essa não é a primeira nem a ultima vez que ela vira alvo desse tipo de pena e de patrulha.

Sua solteirice despertou ódio e compaixão nas pessoas por anos. Ela também já foi perseguidas por todos os boatos possiveis sobre estar ou não grávida. Na época, a atriz chegou a escrever um artigo defendendo o seu direito (e de outras mulheres também) de não terem filho.

Não somos ricas, nem tão lindas, nem milionárias, mas no caso da patrulha da solteirice, dos filhos e da nossa "sorte amorosa" , somos, ainda, todas Jennifer. Que lástima.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.