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Nina Lemos

“Bebês reais” brasileiros fazem nascimento do filho de Kate parecer modesto

Nina Lemos

25/04/2018 04h00

Crédito: Getty Images

As notícias sobre o bebê real, o filho de William e Kate, estão em todo canto. Sabemos que ele nasceu em um hospital cuja diária da maternidade custa R$ 28 mil por noite, que a primeira visita de seus irmãos durou 35 minutos e, o mais impressionante, que Kate teve alta do hospital horas depois do parto. Sabemos também que um cavalete de ouro com uma nota emoldurada anunciando o nascimento da criança foi colocado em frente à casa real.

E imagino que algumas famílias brasileiras já devem estar pensando em copiar a ideia. Por que colocar só uma plaquinha na porta da maternidade se você pode colocar um cavalete de ouro?

Digo isso pois muitos de nós tratam seus próprios rebentos como se fossem, como diz uma amiga, pequenos reis. Não estou falando aqui que todos os bebês não são fofos (eles são!). Nem  que famílias e amigos não ficam exultantes (ficamos, claro!).

Mas cada dia mais os bebês no Brasil são tratados como príncipes. Na "nossa época", tínhamos um "albinho" do bebê e um de fotos. Alguns, lembrancinhas de maternidade modestas. Outros, nem isso.

Mas no Brasil dos anos 2000 e tanto um nascimento de bebê de classe média remediada que se preze conta com:

 – Book de newborn

As fotos são feitas quando o bebê tem cerca de 15 dias. Os preços, em geral,variam entre R$ 700 e R$ 2.500. Os bebês são vestidos, colocados em cenários. Existem também variações como o "book de bebê" embaixo d'água. Mais caro, claro.

– Festa na maternidade

A nova moda dos mais abastados. Sim, é uma festa no hospital (acreditem). Os pais contratam empresas que organizam mesa decorada, com direito a comes e bebes dentro de um quarto de hospital.

Isso é uma moda nova e bem brasileira. Algumas pessoas chegam a gastar R$ 7.000 na "mesa" da maternidade, que pode incluir cristais, flores, champanhe, taças, petiscos. Em algumas maternidades, é possível alugar uma sala próxima ao quarto da mãe para a "baladinha". A moda é polêmica. Tem quem ache um absurdo transformar quarto de maternidade em festinha e quem ache que toda forma de festejar vale a pena.

– Chá de revelação

Última moda. Pode ser feito junto ou separada do chá de fraldas. A ideia é revelar em grande estilo o sexo do bebê. Para isso, acontece uma festa, em geral com lembrancinhas rosa e azul (até quando), mesa de doces, comidas, bebidas… e ali os pais e os convidados vão descobrir o gênero do bebê durante brincadeiras, como estourar uma bola.

O fenômeno de fazer festas, álbum luxuosos para recém-nascidos e outros luxos é bem brasileiro. Perguntei para amigos que vivem nos quatro cantos do globo e o Brasil parece ganhar na categoria "luxo e dinheiro." Nos Estados Unidos, muitas famílias fazem o book e o chá de revelação (surgiu lá esse negócio). Na Europa, a celebração costuma ser bem mais simples. Ou, seja, basicamente nenhuma. Não há festa com coquetel em maternidade nem se você for a Kate Midleton!

Sua majestade, o bebê

No início do século passado, as festas de recepção aos príncipes e princesas plebeus poderiam não ser tão luxuosas. Mas, mesmo assim, Freud criou o termo: "Sua majestade, o bebê". "A criança sempre terá mais divertimento que os seus pais, ela não ficará sujeita a necessidades, restrições não a atingirão."

Explicando: segundo o criador da psicanálise, muitos pais projetam seu narcisismo e expectativas no bebê. Tipo, ele terá de tudo, será Rei, já que os próprios pais já descobriram que não são.

Normal. Todo mundo faz isso em algum grau e cada um faz o que quer. Mas será que não exageramos? Será que seu filho vai se sentir rejeitado porque você está sem grana e não fez book ou festa na maternidade? Provavelmente, não.

Fato: o mercado dos príncipes e princesas só cresce… E o céu é o limite (e o cartão de crédito dos pais, também). Pensando bem, até que o nascimento do bebê real foi modesto…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.