DJ acusado de agredir brasileira em Berlim vira alvo de boicote e protestos
"Boicote Nu", "Nu nunca mais!", "Agressor de mulheres!" Essas frases têm sido usadas nas redes sociais clamando pelo boicote do DJ Nu, o nome artístico de Fabian Lamar. O peruano residente em Berlim é um celebrado artista da cena eletrônica e está sendo acusado de agredir (e tentar matar) a ex namorada e mãe de sua filha de 11 meses, a produtora brasileira Rebeca Kodaira, de 22 anos, em Berlim.
O caso, que aconteceu no inicio de dezembro, veio à tona sexta-feira quando Rebeca, com medo de perder a guarda da filha e assustada com ameaças, expôs o caso nas redes sociais. Nas imagens, ela aparece com o rosto desfigurado.
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"Ele parecia um cara legal, calmo, se revelou um psicopata", diz a brasileira Aline Maluck, que conhecia o casal e foi uma das pessoas a prestar assistência a Rebeca após a agressão.
Muitas dores
"Eu só quero voltar para casa", diz Rebecca em um dos vídeos postados no Instagram por ela. Seu rosto está inchado e ela tem diversos curativos. Rebeca teve o fratura no crânio e no maxilar, tomou pontos e foi hospitalizada por uma semana. No domingo, procurada pelo blog, disse que "estava difícil responder, pois sentia muitas dores."
Em um vídeo publicado no Instagram, ela conta detalhes da agressão. "Ele acordou transtornado depois de dois dias sem dormir e tentou me estrangular. Depois, bateu minha cabeça na parede, me puxou pelo cabelo." Rebeca conta que desmaiou e acordou no banheiro coberta de sangue. Depois, escapou pelas escadas pedindo socorro.
A denúncia causou choque na cena de música eletrônica. O DJ tinha um evento no ano novo em um festival no México. Foi tirado do "line up". Na página do evento, pessoas envolvidas com eventos do tipo apóiam a decisão.
Mas esse meio não aceitou que o ídolo tinha pés de barro de imediato. No dia 28, depois de Rebeca publicar suas denúncias, Nu publicou um texto em sua página no Facebook (com mais de 70 mil seguidores). Ali, "acusou" Rebecca de "se auto-abusar e ser doente". Disse que há tempos pensava ter se livrado dela e a chamou de "diabólica que queria destruir sua carreira". E negou as agressões. No fim da mensagem, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa, disse que Nu "pregava o amor".
A publicação, inicialmente compartilhada também no Instagram do DJ, foi apagada, assim como sua página no Facebook. Mas quem viu (como essa blogueira) se chocou com alguns comentários de fãs do DJ, que diziam para ele seguir em frente, que ele tinha se livrado de boa. Uma menina chegou a comentar que Rebeca tinha uma "aura destrutiva". Outra, que aquilo "com certeza era fake". Rebeca conta que decidiu expor o caso depois de receber ameaças do DJ e de seus amigos. "Muitos DJs me escreveram pedindo que eu não falasse nada, senão iria destruir a carreira dele", disse.
Claro, muitas mulheres (principalmente brasileiras) prestaram solidariedade a Rebeca e chamaram Nu de criminoso. Deve ser por isso que ele apagou o post.
No momento, a produtora está em São Paulo com os pais e a filha de 11 meses em segurança. O caso corre na justiça alemã e ela tem uma audiência em fevereiro em Berlim para decidir a guarda da filha.
Nu, além de apagar suas redes sociais e comentários, não respondeu as mensagens enviadas pelo blog e, até o momento, não deu mais nenhuma declaração.
Nenhuma a menos
Só para lembrar o óbvio: chamar uma mulher de louca é uma desculpa antiga usada por homens que praticam violência doméstica. E, mesmo se uma mulher estiver doente, isso não é motivo para agredi-la. Nada no mundo é desculpa. Nada justifica esse tipo de violência. Nada.
No que depender da corrente de mulheres em apoio de Rebeca, o DJ, como se diz, não passará. A professora Suely Torres, que mora há 20 anos em Berlim, é uma das organizadoras de um protesto contra ele em Berlim.
"A minha ideia é representar todas as Rebecas e mostrar para todos os violentadores que não estamos sozinhas. Não tenho interesse em atacá-lo. Minha intenção é mostrar que estamos juntas. Estou muito cansada de ler as coisas no Facebook e colocar só uma carinha chorando. Temos que nos levantar e ir até lá", diz.
Na ocasião em que esteve internada, Rebecca contou com apoio de uma rede de mulheres que se revezaram ficando com ela no hospital, resolvendo burocracias e cuidando de sua filha. Sim, as mulheres estão mais unidas do que nunca (fica o recado).