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Nina Lemos

Fabio Assunção: o mundo precisa de mais caras como ele

Nina Lemos

23/01/2019 16h01

Ricardo Borges/Folhapress

Fabio Assunção, pelo que eu saiba, não constrói casas com as próprias mãos (de madeira reciclada) nem é um perfeito cozinheiro, que ainda prepara comidas incríveis com um sorriso que mostra a covinha. Ou seja, não é nenhum Rodrigo Hilbert, o cara que virou sinônimo de cara perfeito, uma espécie de príncipe dos nossos tempos, ou um lenhador sensível, como diria o amigo Xico Sá.

Fabio é um dependente químico em recuperação. E, na minha opinião, um dos maiores exemplos de famosos legais do Brasil. Nada contra Rodrigo Hilbert, muito pelo contrário. Mas se é para eleger um modelo de cara legal, sou mais o Fabio.

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O ator de 47 anos tem sofrido bullying constante por conta de sua dependência química. Ontem, anunciou ter feito um acordo com o grupo La Fúria, que lançou uma música com seu nome e tem versos como "hoje eu vou zoar, hoje eu vou ficar loucão, hoje eu vou ser o Fabio Assunção".  Solução encontrada por ele: conseguiu que todo o dinheiro gerado com a música seja doado para instituições que ajudam dependentes químicos. E banda e ator ficaram amigos.

Que bom exemplo em tempos em que tudo vira treta, não? Ainda é possível resolver as coisas de boas e achar uma solução perfeita para os dois lados. Mais que tudo, Fabio e a banda provaram que ainda existe a possibilidade do diálogo.

Ao anunciar, ontem, o acordo no Instagram, o ator disse: "Antes de qualquer coisa, eu preciso falar com as pessoas que passam pelo mesmo problema que eu. Eu não endosso, de maneira nenhuma, essa glamourização ou zoeira com a nossa dor. Minha preocupação é com quem sente na pele a dor de ser quem é. Com as suas famílias".

Perfeição não existe

Fabio Assunção é perfeito? Não. E por isso mesmo que acho que o mundo dos famosos precisa de mais caras como ele. Como diria Fernando Pessoa, "nunca conheci quem tivesse levado porrada." Parafraseio o poeta: "todos os galãs são campeões em tudo. Nunca conheci quem não tivesse dado mancada."

Fabio já foi visto em várias situações constrangedoras. Chegou a ser preso duas vezes por dirigir embriagado. Mas se levantou. Não é assim na vida? A gente erra, acerta, cai, levanta…

A piada do "Fabio Assunção doidão" que, como ele mesmo disse, não tem graça nenhuma, virou febre. Até agora, a grande sensação do Carnaval é uma máscara de Fabio Assunção. Sim, uma máscara de doidão, do tipo: "hoje eu vou cair e dar vexame."

Falta de respeito não só com ele, mas com quem passa pelo problema e com seus familiares. E, como ele mesmo disse, é a glamourização de uma coisa que, na verdade, não tem a menor graça. Segundo dados da ONU, 1 em cada 20 mortes no mundo é causada pelo álcool.

Mas Fabio tem enfrentado isso com altivez e coragem. Precisamos de mais Fabios no mundo. Está fazendo falta…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.