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Nina Lemos

Número recorde: conheça as 6 brasileiras que são novas juradas do Oscar

Nina Lemos

24/02/2019 04h00

A produtora brasileira Vania Catani, criadora da Bananeira Filmes, estava no trabalho em um dia comum do ano passado quando recebeu um e-mail vindo de Hollywood. "Não achei que fosse algo importante. Deixei de lado e pensei, "ah, depois eu vejo." Só depois de receber um telefonema de parabéns é que ela foi abrir o tal e-mail. Ela havia sido convidada para integrar o time de membros da Academia do Oscar. Sim, a mineira de 56 anos, responsável por filmes como "O Palhaço", é agora uma das juradas do Oscar.

Todo ano, a academia escolhe novos membros. As cineastas Ana Mullayert e Heloisa Passos, por exemplo, já fazem parte do júri. Esse ano, mais 928 pessoas de 59 países foram convidadas, sendo 49% mulheres. A ideia de Hollywood: preencher a lacuna entre homens e mulheres e também ter representantes de vários países. O resultado é que nesse ano, o número bateu recorde: foram nove convidados, seis são mulheres.

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São elas a atriz Alice Braga, as diretoras Maria Augusta Ramos, Helena Solberg, e Petra Santos e a montadora Karen Harlley.

Todo o esforço não surtiu assim tanto resultado. O número de mulheres entre os membros da famosa Academia era de 28% ano passado. Hoje, é de 31%. Sim, ainda falta bastante. Mas, para profissionais do cinema ouvidas pelo Blog já é um bom começo. "A gente estar lá faz diferença, trazemos um outro olhar", diz Vania Catani.

Representatividade

"É essencial que Hollywood, e os outros mercados de cinema  tentem igualar o número de homens e mulheres e trazer pessoas de outros países e culturas para que o olhar sob o cinema seja mais diverso", diz Maria Augusta Ramos, diretora do filme "O Processo" e um dos novos membros da Academia. Segundo ela, é importante também a presença de pessoas negras e LGBTs. "As chamadas minorias precisam ser representadas", diz.

Ela acredita que a situação das mulheres no cinema, apesar de ainda não ser a ideal, está melhorando. "Temos grandes mulheres diretoras, montadoras, produtoras. No Brasil podemos ver a diferença em dez anos. Acho que isso não tem volta", comemora.

A montadora Karen Harley, que concorreu ao Oscar com o filme Lixo Extraordinário e é colega de Maria Augusta no juri concorda. "Quando comecei, há 25 anos,  o cinema era um meio bem mais masculino. Ainda bem que está mudando. Espero que chegue um dia onde a questão de gênero não seja mais uma questão."

 Mas, o que faz uma jurada?

"A gente recebe muitos filmes. Vi 150 filmes em três meses e tive que votar em todas as categorias. Amei. Para alguém que ama cinema, ter acesso a 150 filmes é uma maravilha", conta Vania, que reconhece sim, que o convite é uma honra. "Não sou blasé. Fiquei muito contente, foi um reconhecimento do meu trabalho. "

Quem são as novas brasileiras na academia:

 

Karen Harley 

Divulgação

A pernambucana de 54 anos é montadora de mais de 30 filmes. Entre eles, "Que horas ela volta", "Big Jato", "A festa da menina morta" e, mais recente, "Marighella", de Wagner Moura. Já ganhou o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro duas vezes, com o documentário "Lixo Extraordinário", que concorreu ao Oscar. Também é responsável pela montagem  de "Que horas ela volta."

Vania Catani

 

Foto: Divulgação

É mineira, tem 56 anos e é fundadora da Bananeira Filmes, que tem 18 anos. Trabalha com produção há 20 anos e já lançou filmes como "O Palhaço", "A Festa da Menina Morta", "Zama" (co-produção com a Argentina) e "Mate-me por favor."

Alice Braga

Foto: Bruno Polleti/ Folhapress

A atriz de 35 anos estreou ainda adolescente em "Cidade de Deus". Por um tempo (curto) foi conhecida como "a sobrinha de Sonia Braga", Alice não parou mais. No Brasil, fez filmes como "Cidade Baixa" e "Carandiru". Em 2006, começou carreira também internacional. No ano seguinte, trabalhou com Will Smith em "Eu sou a lenda." Filma agora "Eduardo e Mônica", inspirado na música da Legião Urbana, em que faz o papel de Mônica.

Petra Costa

Foto: Lucas Lima/ Folhapress

A diretora Petra Costa tem 35 anos e estreou em grande estilo, com o curta metragem "Olhos de Ressaca", premiado no Festival do Rio e no Festival de Gramado. Em 2012, lançou Helena, escolhido o melhor documentário do festival de Brasilia, onde ganhou também o prêmio de melhor direção. Seu último filme é "Olmo e a Gaivota", uma coprodução entre o Brasil e Portugal. 

Helena Solberg

Foto: Zô Guimarães/ Folhapress

Helena é uma das únicas mulheres diretoras que participou do Cinema Novo. Na época da ditadura militar, mudou para os Estados Unidos, onde morou por 30 anos e trabalhou em produções americanas. De volta ao Brasil, nos anos 90, dirigiu o filme "Banana is my business", premiado nos festivais de Brasília, de Chicago e do Uruguay.

Maria Augusta Ramos

Foto: Divulgação

A documentarista ficou mais conhecida popularmente com o filme "O Processo", lançado ano passado e que narra o impeachment de Dilma Roussef, mas já era, há anos, uma documentarista super premiada. É autora de filmes com temática social, como "Justiça", que ganhou nove prêmios internacionais. 

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.