Ludmilla x Anitta: vamos parar de alimentar o coro de "briga de mulher"?
Francisco Capeda/AGNewsEu devia ter uns 10 anos quando tive uma briga com minha prima em uma praia onde a família acampava. Enquanto levantávamos da batalha cheias de areia, ouvimos gritos. Eram homens, em frente a um bar, que gritavam: "Briga de mulher! Briga de mulher!" E, bem, nós éramos crianças, certo? Crianças próximas que se amam e acabaram brigando. Mas ouvimos o coro: "Briga de mulher! Briga de mulher!"
Não lembro de ter ouvido alguma vez o coro: "Briga de homem! Briga de homem!" quando meninos brigavam. Mas, enfim…
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Lembrei do coro de novo ao ver a nova briga midiática do momento. Como acontece na maioria das vezes, ela envolve duas mulheres. As cantoras Anitta e Ludmilla, antes BFFs, brigaram. O coro grita: "briga de mulher! briga de mulher!".
Brigar faz parte da vida, infelizmente. Mas, podem ver, é só uma mulher se desentender com outra que a audiência pira e, salivando, repete o coro. As brigas de mulheres já foram, inclusive, consideradas sexy. Mulheres rolando na lama… hummm, que tesão.
A sociedade tem um fetiche e um gostinho todo especial quando mulheres brigam.
Competidoras? Só que não!
Inclusive, porque uma das lendas da humanidade mais furadas do mundo diz que mulher não consegue ser amiga de mulher. Uma hora uma vai furar o olho da outra! Claro, somos bruxas más (escrevo no dia do Halloween) que não conseguem conviver. Somos competidoras em potencial!
Só que é mentira. Pesquisas mostram o contrário. Um estudo realizado pela Universidade de Bonn, na Alemanha, e divulgado esse ano mostra que mulheres são menos competitivas que homens em ambientes de trabalho! Sabiam? É fato. Mas quem se importa?
No caso de Ludmilla e Anitta, as duas tiveram uma rusga profissional. Brigaram por causa de direitos autorais. Um tipo de coisa chata, mas que acontece. E não tem nada a ver com o gênero. Quem está certa? Eu não sei e não me interessa.
Mas o conflito ganha ares de guerra. Alguns sites falam sobre "a batalha das funkeiras". A briga dá audiência. E leva os fãs a atitudes radicais. Na noite de quarta-feira, Ludmilla foi vaiada no prêmio Multishow por fãs de Anitta, depois de ganhar da cantora. Os fãs, apaixonados, estão, sem querer, dando coro para o grito: "Briga de mulher! Briga de mulher!."
Esse tipo de rivalidade, que é inclusive lucrativa, não é novidade. Ela existe desde a época de nossas mães e avós. Nos anos 50, o Brasil era dividido em duas torcidas: Emilinha e Marlene, as duas cantoras do rádio. Algumas eram do time de uma, outras, do time da outra. Enquanto isso, bem, não acho que teve uma rivalidade entre cantores do rádio no mesmo nível.
Hoje, claro, exemplos não faltam. Temos as possíveis brigas entre as princesas Kate Middleton e Meghan Markle. Se os dois irmãos brigaram, isso teria mais apelo, não? Mas, "briga de mulher, briga de mulher!", gritam os tablóides. E, podem ver, é só uma atriz deixar de seguir outra em rede social (o novo ficar de mal) que todos correm para ver a briga.
Existem mil teorias sobre o mito da rivalidade feminina. Uma delas é que isso é usado para nos enfraquecer. Concordo. Se a gente nem consegue ser amiga uma da outra (o que, repito, é mentira), quem vai se dar mal é a gente, certo?
A outra, que para mim faz muito sentido, é a antiga fama de histéricas e barraqueiras que carregamos. Mulher adora dar barraco! São passionais! Bem, a câmara dos deputados em Brasília, só para citar um exemplo, é formada majoritariamente por homens, certo? Já viram um lugar com mais barraco?
Cada vez que assistimos e incentivamos as tais "rixas femininas" estamos dando força para esses mitos. Quem se ferra com eles? Nós mesmos, mulheres. Fãs da Anitta e da Ludmilla, pensem nisso antes de vaiar e xingar uma das duas. No máximo, o que vocês vão conseguir é alimentar o coro que grita: "briga de mulher, briga de mulher"!