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Nina Lemos

Gugu Liberato é exemplo triste do preço que se paga por esconder quem se é

Nina Lemos

08/05/2020 04h00

Reprodução

O apresentador Gugu Liberato morreu em novembro do ano passado, mas sua vida continua sendo assunto. Depois que a mãe de seus filhos, a médica Rose Miriam Matteo, entrou com um processo de união estável com o apresentador (ela não foi lembrada em seu testamento), agora apareceu um namorado: o chef de cozinha Thiago Salvático, que diz ter provas de que mantinha um relacionamento com o apresentador e, por isso, entrou na justiça para o reconhecimento de união estável com Gugu .

Gugu morreu (pelo menos no papel) solteiro. E agora existem duas pessoas querendo provar que tinham um relacionamento com ele. Toda a história é triste. Afinal, são brigas de família e detalhes que a gente não precisava saber. Ninguém precisa saber, por exemplo, da vida sexual de alguém, por mais famosa que essa pessoa seja.

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A mãe dos filhos de Gugu está errada? O suposto namorado está errado? Difícil julgar. Fato: ao ter a vida exposta dessa maneira, a família de Gugu parece pagar o preço pelo fato de o apresentador não ter assumido em vida as suas escolhas, sejam elas quais fossem. E o mesmo acontece não só com ele, mas com várias pessoas que tentam mostrar para a sociedade que têm uma vida certinha, daquelas de comerciais de margarina. Quem tem? 

Não estou julgando alguém que já morreu. Estou falando que uma sociedade preconceituosa faz com que muitas pessoas paguem o preço. Agora, com tantas brigas, parece que toda a família do apresentador passa por mais uma provação, além do luto. Não seria mais fácil se tudo fosse às claras e agora todos se confortassem, em vez de brigar nos tribunais?

Se tudo for verdade, qual seria o problema? Um homem pode, sim, ter uma relação com um namorado e, ao mesmo tempo, uma ótima relação com a mãe dos seus filhos. Não tem nada de errado nisso. Conheço, por sinal, famílias assim. Em alguns casos, como em qualquer relação, a ex não se dá tão bem com o (a) atual. Mas isso também não é um problema gigante, acontece e dá para contornar poupando os filhos.

Eu mesma tenho dois enteados. Não sou melhor amiga da mãe deles, mas nos respeitamos. Ah, sim,  meu caso é mais padrão porque sou hétero e meu marido tinha uma relação usual com a mãe dos filhos: se conheceram, foram morar juntos, se separaram. 

No caso de Gugu, pelo jeito, ele e a mãe dos filhos tiveram uma grande ligação de amizade. Continuaram se vendo, passando festas juntos e viajando com os filhos. Ela, inclusive, estava com o apresentador na hora do acidente fatal. Se tinha sexo ou não? Não importa. Não é da nossa conta. Eles eram companheiros em cuidar dos filhos. Isso já é muita coisa.

E se Gugu, de fato, tinha um namorado, isso também não deveria ser problema nenhum. Seria o mesmo que acontece com tantas pessoas que têm filhos, se separam e casam de novo. 

Mas o apresentador, pelo jeito, passou a vida se escondendo. Direito dele? Sim, claro. Mas isso não costuma dar certo, ainda mais para quem é famoso. E arrisco a dizer que ele provavelmente teria sido mais feliz se tivesse assumido suas escolhas.

No fim, Gugu, que nunca levantou bandeira de nada e nem se assumiu, pode acabar virando  um exemplo de como se assumir é importante. Quem diria…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.