Para feministas, Sara Winter não é "ex-feminista" porque nunca foi uma
"Ativista", "ex-feminista": esses são alguns dos termos usados para designar a militante de extrema-direita Sara Geronimi, que se autointitula Sara Winter. Sara foi presa ontem em um inquérito que apura manifestações antidemocráticas. Ela é uma das líderes do grupo "300 do Brasil", que admite, entre outras coisas, ter membros armados e prega ações contra a democracia, como a volta do AI-5.
Chamar Sara de ex-feminista não deixa de fazer sentido. Afinal, a primeira vez em que ela apareceu na mídia foi como membro do Femen, grupo que foi criado em 2008 na Ucrânia e que luta contra o sexismo e homofobia. As integrantes do Femen ficaram famosas por protestarem tirando a roupa. Sara, foi, de fato, uma das fundadoras do Femen brasileiro e ganhou fama de feminista. Durou pouco. Em 2012, ela viajou para a Ucrânia para conhecer o grupo. Em 2013, já no Brasil, foi expulsa da organização.
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Daí para a frente, Sara foi virando uma conservadora radical (ela chegou a trabalhar com a ministra Damares Alves, como uma fervorosa militante anti-aborto). Radicalizou ainda mais, passou a pregar o uso de violência e deu no que deu.
Agora, existe "ex-feminista"? Será que ela mudou tanto assim? Será que Sara foi, de fato, uma feminista?
O blog convidou a filósofa e escritora Márcia Tiburi, autora do livro "Feminismo em comum" e a professora Lola Aronovich, autora do blog "Escreva, Lola Escreva", para responder essas perguntas.
"Eu lembro dela na época do Femen. Ela foi muito xingada na época por aparecer nua, fazer aquelas performances. Fiquei com pena dela quando sofreu os ataques na época. Mas ela não era uma feminista, ou seja, uma pessoa que defende os direitos das mulheres. Quando ela deu essa guinada anti-feminista, pareceu também uma virada oportunista. A extrema-direita gosta de capturar personagens que podem servir de pivô para eles. Como o sujeito que é negro e é racista, a mulher que é antifeminista. Essas pessoas ganham empregos, dinheiro. A extrema-direita usa o desnorteio. O papel da Sara é interessante. Ela era uma menina fashion, tatuada, que se dizia feminista. Hoje, faz um efeito de performar esse desnorteio do "antifeminismo". Ela encara um herói perturbador, que deixa as pessoas sem parâmetro." Márcia Tiburi, professora de filosofia e autora do livro "Feminismo em comum"