Topo

Nina Lemos

Festas com teste de Covid: até quando vão achar que dinheiro compra tudo?

Nina Lemos

22/06/2020 13h08

Reprodução Instagram

"Chegando aqui no aniversário da Fabi e olha o que temos… só entra com teste de Covid. Cadê o meu, gente?" O comentário animado foi feita por uma convidada de uma festa em Brasília. No vídeo, postado no Instagram no final de semana, ela mostra ainda duas técnicas de enfermeiras sentadas na entrada da festa. A dona do rega bofe era a socialite Fabianne Fonseca. Super VIP. Chiquérrimo (contém ironia).

Não foi o único evento. Outra festa do final de semana rolou na mesma cidade e, segundo a aniversariante, a blogueira Flay Leite, todos foram testados, inclusive os funcionários. Segundo disse ao UOL, a maioria deles "mora em casa". Ou seja, ela está em casa sendo servida por empregados e acha isso normal…

Veja também

A nova modalidade de festa de ricos causou choque e escândalo. Um dos motivos é que, segundo médicos, o teste rápido tem eficácia moderada e não garante que você não possa contaminar outros convidados.

Resumindo: no momento, por mais rica que seja, você não pode fazer festa. Isso o seu dinheiro não poder comprar! Não adianta chorar!

Além do perigo de saúde desse tipo de festa, outro fator que causa choque é esse comportamento "eu tenho dinheiro, eu posso, dinheiro compra tudo. Me deixa!"

Não que ele seja novidade entre os ricos brasileiros, mas no momento em que o mundo vive uma pandemia e uma recessão, com o país contando com mais de 50 mil mortos e mais de 1 milhão de casos… ostentar exames é escandaloso. Qual vai ser o próximo passo, ostentar respiradores?

O clima lembra o filme "Podres de Rico", uma comédia disponível no Netflix que ironiza o estilo de vida em Singapura, um dos países com maior desigualdade no mundo. Ali, os ricos fazem festas em ilhas particulares fazendo caça ao tesouro de diamantes e peças de grife. Imagino que na nova versão desse tipo de festa, terá um teste de COVID de ponta na porta. 

Mesmo barco?

É engraçado que no início da pandemia muita gente disse que a Covid-19 iria igualar as pessoas, que estávamos todos no mesmo barco. E até que esse seria o fim das diferenças. Até parece. Além dos mais pobres morrerem mais durante a pandemia, enquanto uns estão trancados em casa, outros nem isso podem. E, no topo, tem gente fazendo festa e contando com criadagem como se nada estivesse acontecendo…

No momento, algumas pessoas (privilegiadas, com dinheiro para fazer o teste) pensam em fazê-lo para, por exemplo, visitar os pai ou fazer uma viagem para reencontrar a família. Faz sentido. Afinal, são mais de 3 meses de isolamento. É muito tempo. E é totalmente diferente de fazer festa com teste estilo "lembrancinha ostentativa".

 Ostentação nunca foi tão cafona. Ostentar um teste médico em meio à pandemia, no segundo país mais atingido do mundo, parece mesmo uma piada de mau gosto.

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.