Pressão estética: quarentena tem drive-thru de botox e boom de rinoplastia
Imagem: Reprodução/Instagram @mirella
Uma nova modalidade de drive thru foi inaugurada em Miami. Desde o fim de maio, clientes fazem fila não em busca de hambúrguer ou de um teste de COVID-19. Quem para no estacionamento está em busca de uma injeção de botox, aplicada dentro do carro, mediante o pagamento de 300 dólares (cerca de mil e quinhentos reais).
Com as clínicas estéticas fechadas por causa da pandemia, a modalidade foi criada pelo cirurgião plástico Michael Salzhauer, conhecido como "Doctor Miami". O serviço tem feito sucesso. Em vídeos no Instagram, é possível ver mulheres dentro do carro, com a cabeça para fora, enquanto um médico, paramentado com todos os equipamentos de segurança, aplica uma injeção na testa da moça mascarada.
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Estamos vivendo uma epidemia mundial e os Estados Unidos, terra do Dr. Miami, é o país com mais casos no mundo. Isso significa que os americanos são malucos? Não. Na verdade, as intervenções estéticas no meio da pandemia acontecem no mundo todo. E, para choque geral, em alguns países elas não diminuíram em tempo de pandemia (onde ir ao hospital é algo perigoso, todos sabem), mas, pelo contrário, aumentaram.
Na Austrália, médicos estão se deparando com um fenômeno que apelidaram de "inveja do Zoom". Segundo especialistas, essa é a razão para que número de procura por cirurgias para diminuir ou afinar o nariz (rinoplastia) tenha aumentado 300% no país durante a pandemia. A procura por cirurgia para tirar linhas e bolsas nos olhos aumentou 200%.
Segundo os médicos, mulheres executivas estão fazendo as cirurgias para "aparecer bem nas reuniões do Zoom". Por isso, tem procurado mais cirurgias do rosto, que é o que aparece nesse tipo de conferência. A procura teria a ver também com o fato das mulheres estarem com horários mais flexíveis.
E se o Brasil fica atrás? Oras, o país campeão mundial em números de cirurgias plásticas no mundo (em competição acirrada com os Estados Unidos) não poderia ficar fora dessa. E não fica. Vários famosos aproveitaram o "tempo do isolamento" para fazer plásticas e procedimentos. Provavelmente não é coincidência que muitos deles procurem justamente a plástica no nariz. Afinal, com tanta live por aí… Há que se parecer perfeito (contém ironia).
Essa semana, a humorista Tata Werneck fez piada com a "moda". Ela postou no Instagram uma foto sua com um filtro no nariz e escreveu: "Galera, aproveitei a quarentena pra fazer uma plástica no nariz". Eu não enxergava bem e atrapalhava ao comer. Curtiram o resultado? Marque quem tem nariz"
Ela brincava com o fato de muitos falarem "ah, eu tenho desvio no septo" e usar isso de "desculpa para fazer a plástica.
Entre os adeptos da rinoplastia na quarentena estão a ex BBB Flayslane, e os cantores MC Mirella e Kevinho. MC Rebecca também mexeu no nariz, mas para diminuir o tamanho das asas nasais. O procedimento é chamado de alectomia.
Sim, essas pessoas foram até clínicas ou hospitais no meio de uma pandemia mundial fazer procedimentos que são cirurgias e envolvem riscos. E, como todo mundo sabe, se nem sair de casa para ir ao supermercado é seguro, imagina fazer uma cirurgia? Quem precisa fazer por motivos de saúde no momento faz com muita preocupação.
Tudo isso parece incrível para nós que mal damos conta da nossa saúde mental no momento. Como teríamos tempo para pensar em uma coisa dessas com tanta incerteza e insegurança na cabeça?
Mas, por um lado, não surpreende, já que a obsessão estética está arraigada na sociedade há anos. Quando a pandemia começou, muitos falaram que esse seria um momento para olhar para dentro, que nossos valores mudariam. Seríamos seres mais evoluídos… Mas não.
Alguns de nós, humanos, estamos fazendo botox dentro do carro em estacionamentos mascarados ou correndo riscos em cirurgias para aparecer melhor em uma conferência de trabalho por computador. Nós não melhoramos nada.