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Alô, geração Zuckerberg que acha que sabe tudo: menos, por favor

Nina Lemos

06/09/2017 04h00

(Ilustração: Getty Images) 

"Eu digo que tenho dez anos a menos no trabalho para ser respeitada pelos meus colegas."

Esse comentário foi feito no post da semana passada desse blog, onde eu falava de que esse papo de que mulher deve mentir idade é uma furada. Senti um certo desespero quando li. Mas infelizmente bateu exatamente com o o que eu já imaginava.

Esse mundo está virado, digo, do mesmo jeito que minha avó diria. Ser experiente é ruim? Não era para ser o contrário? Os colegas não deveriam valorizar e leitora justamente por ela ser mais experiente? A gente não aprendeu que deve se respeitar os mais velhos?

Em 2007, Mark Zuckerberg, ele mesmo, o criador do Facebook, declarou: "as pessoas mais jovens são simplesmente mais espertas que as mais velhas". Ele tinha 22 anos quando disse isso. Pode ter sido uma bobagem adolescente, mas a frase virou uma das mais famosas do criador da rede social e, por isso, dificilmente vai ser esquecida. Não por acaso, claro, a idade média dos funcionários do Facebook é de 28 anos!

Será que Mark, que hoje tem 32 anos (velho, segundo os padrões dele mesmo) influenciou toda uma geração? Estão todas achando que vão criar uma startup do nada, ganhar dinheiro fácil e que nem precisam estudar ou pedir conselhos, pois já nasceram prontos, abençoados como pequenos budas?

E não me venham dizer que sempre foi assim, não.

Bem, quando eu tinha meus 20 e poucos, fui trabalhar na Folha de S.Paulo. Os meus ídolos eram, claro, os jornalistas mais velhos. Eu ficava abismada de ver gente como o Jânio de Freitas, o José Simão, a Danuza Leão. Já pensou se eles tivessem que mentir a idade para ganhar o respeito de nós, colegas mais jovens?

Depois, fui jornalista de moda. E conheci a Costanza Pacolato, ídola suprema. E de novo, pergunto, já pensou se a Costanza tivesse que mentir a idade para ganhar o respeito de uma mané tipo eu? Será que existe blogueira de moda-influencer que olha para ela e pensa: "preciso dar umas dicas para ela ter mais likes", ao invés de colar para tentar aprender um pouco?

Será que a culpa é só do Mark e outros gênios do novo empreendedorismo? Ou será que foi excesso de escola construtivista e de festas supercaras que parecem o casamento da princesa Kate? Será que os pais falaram demais "vocês são geniais" para cada pintura que eles fizeram aos 2 anos de idade, juraram que eles eram os novos Picassos e eles acreditaram?

As respostas exatas, ninguém tem. Mas, vixe, que auto-confiança exagerada!

Outro dia um amigo jornalista muito bem sucedido fez um desabafo. "A nossa geração se ferrou. Eu lembro de achar os jornalistas mais velhos o máximo, hoje, no meu trabalho, me acham um velho e eu tenho que fingir que acho os jovens o máximo."

Eu digo, de coração, que acho muitos jovens o máximo. Essas meninas que estão aí, berrando contra sexistas vão, sim, mudar as coisas no Brasil! Eba! Existe um monte de artista jovem incrível? Claro! Existe um monte de artista mais velho incrível? Claro! Tem gente legal de todas as idades, de todas as gerações. Não tenho dúvidas. E todas as pessoas merecem ser respeitadas.

Mas você, de 20 e poucos anos, que vai tratar uma colega no trabalho mal por ela ser mais velha que você eu não consigo respeitar não! Por mais empreendedor, nômade digital, gênio da monetização e outras palavras modernas que você seja.

Não que o meu respeito faça diferença, eu sei! Afinal, eu não sei nada. Mas deixo um conselho que vocês também não vão ouvir, pois não precisam."Menos".

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.