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Workaholic? Mãe de pet? Os mitos sobre as mulheres que não querem filhos

Nina Lemos

11/10/2017 04h00

(Foto: Getty Images)

Antes de tudo, que fique claro: eu adoro criança. E não, eu não tenho filhos. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra. Por que não tenho filho? Porque não rolou. Assim como a maioria das minhas amigas que não são mães, isso não foi uma decisão super pensada. Nessa quinta-feira, 12, Dia das Crianças, venho aqui, como representante da categoria das mulheres sem filhos destruir alguns mitos.

O primeiro é esse: o de que somos todas mulheres sem coração que ficam gritando que as crianças devem ser banidas de restaurantes. Sim, existem algumas pessoas que criam uns movimentos com nomes estrangeiros, como "child free" (livre de criança). Mas isso é uma parte minúscula da sociedade. Incluam 99, 9% das mulheres sem filho for a dessa. Eu, por exemplo, gosto de restaurante e festa com criança. Inclusive porque é para a mesa delas que eu fujo dos adultos chatos.

O segundo mito que nos persegue é o de que somos incapazes e burras. Lembro muito bem de uma vez em que estava na praia com um ex namorado e o filho dele. Fui comprar sorvete para as crianças. Uma colega mãe, que eu não via há anos, disse: "mas olha, quem diria, você fazendo isso, nossa, olha, gente, ela consegue!". Ela falou como se eu fosse uma pessoa incapaz de: 1- juntar uns trocados; 2-Andar até a carrocinha; 3-Fazer quatro crianças escolherem o sabor e distribuir os respectivos sorvetes para o grupo.

Ou seja, uma adulta completamente incapacitada.

Não achamos que sapatos caros substituem filhos

Outro mito que nos assombra é o da egoísta-louca-por-sapatos. Esse personagem deve ter a ver com a Carrie de "Sex and The City". Na série, a escritora, interpretada por Sarah Jessica Parker, é uma mulher solteira louca por sapatos Manolo Blahnik, uma marca caríssima. Não, gente, eu não conheço nenhuma mulher que tenha deixado de ter filhos para comprar sapatos. Não, não existe essa substituição de filho por calçados, essas são coisas diferentes.

Muitas mulheres sem filho, inclusive, gastam o dinheiro que tem ajudando a criar outras crianças que não são as suas. E, claro, um monte de mulher com filho é vaidosa, fashionista. E, se tem grana, tem um monte de sapato. Por que não?

E se temos bichos, acham que somos "a mãe dos pets". Essa polêmica de vez em quando vira uma briga ridícula nas redes sociais. Gente, vamos ser claras: nenhuma pessoa normal acha que ter bicho é a mesma coisa que ser mãe! Esses são departamentos completamente diferentes da vida. Se a gente chama os gatos e cachorros de filhos, isso não quer dizer que role uma substituição (na maioria dos casos).

Deixem a gente ser louca dos gatos em paz

Existe louca dos gatos que são mães de crianças também! Se uma mulher sem filhos falar disser "meu filho' se referindo a um cachorro isso não significa que ela está querendo "roubar o protagonismo materno de vocês", pelo amor! Contrário, ela vai ser aquela tia legal que o seu filho adora porque "tem um monte de bichos".

O último mito é um dos mais comuns. Segundo ele, somos competitivas-workaholic-carreiristas-sem-vida. Não tivemos filho, logo, trabalhamos o dia todo, madrugadas, achamos bom não ter tempo livro e perseguimos as colegas sem filho! Para lá! Pessoas sem filho inclusive também gostam de ter vida e tempo livre. O nome de quem persegue mães no trabalho não é mulheres sem filho, mas pessoa do mal.

E por último, pelo amor de Deus, as mulheres sem filhos e as com filho não são inimigas, em campos opostos, praticando uma competição. Algumas até praticam isso. Mas pensem, não faz o menor sentido. Afinal, as mães sofrem com todos os mitos de que: não são boas o suficiente, não tem tempo para trabalhar etc, etc. A lista é interminável. E, como a das mulheres sem filho, completamente mentirosa e injusta.

União, amigas! Estamos juntas!

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.