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Concurso Miss Bumbum chega ao fim e já vai tarde!

Nina Lemos

15/11/2017 11h36

Candidata desfila na última edição do Miss Bumbum (Rodrigo Paiva/BOL)

A coisa era tão bizarra que virou assunto da imprensa internacional. Em algum lugar do mundo, e claro, só poderia ser no país "das mulheres mais bonitas", existia um concurso onde as mulheres disputavam quem tinha o melhor traseiro. O nome do concurso, óbvio: Miss bumbum. Virou febre. Agora, sete anos depois, seu criador avisa que o Miss Bumbum acabou. Digamos que já vai tarde.

A última edição, realizada no início do mês, como sempre, atraiu os olhares do planeta. O jornal mais vendido da Alemanha, o "Bild", por exemplo, estampou uma foto da vencedora (de costas) e escreveu: "Essa mulher tem a bunda mais bonita do mundo".

Somos o país da bunda. E essa é uma coisa tão colada na nossa sociedade, que talvez alguns digam que é triste o Miss Bumbum acabar, pois essa era uma "tradição".

Já eu, acho que o concurso (e sei que falo aqui em nome de muitas mulheres) deve descansar em paz, na terra das coisas que (ainda bem) mudam.

Bundas não falam

Cada um faz o que quer com o próprio corpo? Nenhuma dúvida. Se uma mulher quiser passar anos malhando a bunda e depois desfiar em trajes sumários pelas ruas de São Paulo para divulgar o concurso é problema dela? Sem dúvida.

Mas a questão é maior. O concurso reforçava o estereótipo de que mulher brasileira é "mercadoria para exportação" (tanto que ele teve versões internacionais). Ela não precisava ter cara, nome ou voz. Um bom rebolado e uma boa bunda já eram o suficiente.

A Miss Bumbum não falava. Não precisava fazer uma entrevista, como as misses, ou desfilar em trajes típicos. O quesito simpatia não contava. Era só bunda mesmo.

Só iriamos conhecer o rosto por trás das bundas e suas vozes depois do concurso, quando elas ganhavam (ou ficavam em segundo lugar) e iam participar de reality shows, como Andressa Urach. As outras, desapareciam da nossa vista sem que nem soubéssemos "de que estado" tinham vindo, se é para comparar com o concurso de Miss, considerado um absurdo pelas feministas dos anos 60 (inocentes, nem sabiam que iria piorar muito!).

Mercado da bunda em baixa?

Que o Miss Bumbum descanse em paz junto com o tempo em que a "mulata Globeleza" era pelada. E, que por favor, a "mulata Globeleza" também pare de existir.

Que tempos chatos, sem Miss Bumbum, com a "Globeleza" vestida, e ainda com risco de ser extinta por conta "da pressão dessas chatas, que veem problema em tudo".

Seria demais imaginar que o idealizador do Miss Bumbum acabou com o concurso por achar que ele transformava a mulher em um pedaço de coisa. Não deve ter sido. Ele diz que o formato se esgotou. Mas que bom! Isso significa que o público cansou.

O mercado de mulheres mostrando bundas hiper-malhadas não está rendendo bem? Opa, finalmente uma boa notícia! Comemoremos. E fiquem atentas, irmãs. Vamos torcer para que não apareça outra novidade "incrível".

Lembrem-se, afinal, em se tratando de tratar mulher como pedaço de carne, já tivemos a moça do "Banheira do Gugu", Tiazinha, Feiticeira, mulheres frutas e por aí vai. Vamos torcer para que o Miss Bumbum habite esse mundo das lembranças das coisas esquisitas. E que não volte. Tchau, Miss Bumbum!

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.