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Zezé critica comoção por Marielle e prova que ainda é o "Ogro do Brasil"

Nina Lemos

20/03/2018 13h07

"Para cavalo velho, capim novo". A frase foi dita pelo sertanejo Zezé Di Camargo quando ele se separou da sua ex-mulher, Zilu. O capim novo a quem ele se referia era sua nova namorada. Sim, é nojento. Desde então, Zezé Di Camargo personifica com excelência o papel de "Ogro do Brasil".

Vez ou outra destila sua ogrice pelo Instagram, sua rede preferida para causar. Ele já brigou em público com a ex-mulher, falou atrocidades desrespeitosas e posou de dono do pedaço, aquele macho brigão que "não leva desaforo para casa" e "chama para resolver lá fora." Zezé destila ofensas contra mulheres. Já chamou seguidora de "feia", outra de "recalcada" e já usou contra seguidores frase como: "Meu pau não cabe na sua boca" (Socorro! Que coisa horrenda!).

Um homem desses, famoso, ouvido por milhares de pessoas, falar essas coisas é ofensivo e péssimo para as mulheres, claro. Mas acho que também é muito ruim para os homens, que, em sua maioria, não são tão ogros ou baixos (espero e acredito).

Entra e sai

Zezé já deletou sua rede algumas vezes. Coisa que, realmente, sempre foi um alívio, mas também mostrou o grau do descontrole. Por essas todas, quem acompanha suas atrocidades por curiosidade ou dever do ofício (meu caso) não se surpreendeu ao ver que em um momento em que a maioria da sociedade brasileira está solidária e triste por causa da morte da vereadora Marielle Franco, ele fuja da norma (inclusive dos famosos, que, de todas as vertentes ideológicas, lamentam e mostram compaixão com Marielle, seus amigas e família) e use a rede para destilar ogrice em um momento de luto.

O sertanejo questionou a comoção, a dor de todos nós, causada pela morte de Marielle. Alguém está surpreso? Para isso, ele postou uma foto da médica Gisele Palhares, terrivelmente assassinada em 2016, e escreveu: "Embora mulher, não era negra, não era feminista, não era militante de partidos políticos, não era MTST, CUT ou PSOL, não estava dentro dos programas de assistências de cotas do governo. Enfim, não preenchia os requisitos necessários para uma comoção nacional."

Socorro!

Zezé, a morte de Gisele Palhares foi uma tragédia terrível! Todos lamentamos esse horror! Mas como você usa o nome de outra mulher, que nem pode responder, para criticar a dor diante da morte de outra?

Marielle, quase todo mundo já entendeu, é também um símbolo. Uma mulher que lutava justamente contra a violência. E também pelos direitos dos negros, das mulheres e dos gays. Mais de 70 % dos assasinatos no Brasil são de pessoas negras. Uma mulher é assassinada a cada duas horas no Brasil. Então, esses tais "requisitos" que você citou não servem para causar comoção, não. Eles apenas fazem com que essas pessoas corram sérios riscos de serem assassinadas.

Depois dessa declaração, claro, Zezé foi questionado por vários fãs. Usou, como sempre, de agressividade para responder os seguidores, repito, em um momento de luto e comoção: "não posso ter a minha opinião??? Sou contra a politicagem."

Zezé não percebe que ele mesmo está usando um momento de dor para criar polêmica?

Se Zezé tem todo direito de dar sua opinião? Claro. E a gente, como já aconteceu outras vezes em se tratando dele, tem todo o direito de lamentar…

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.