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Caso da menina morta por cotovelada de namorado é berro de alerta

Nina Lemos

15/05/2018 15h43

Um namorado no meio de uma briga "se descontrola" e puxa seu cabelo. Depois de beber, ele fica mais nervoso ainda e segura no seu pulso com força, porque ele queria muito que "você se acalmasse", e você "estava descontrolada". A coisa vai num crescente, porque ele é muito "alterado". Você começa a esconder marcas.

ATENÇÃO!

Se você já usou alguma dessas desculpas para "tentar entender" seu namorado violento, ou aceitou algum desses argumentos do sujeito "cabeça quente" é hora de parar de agir assim. O caso é muito sério. E não é a primeira nem a última vez que a Universa vai tocar nesse assunto.

Na madrugada de sexta-feira, Jaqueline Aparecida Lopes de Moraes, uma estudante e garçonete de 19 anos, morreu após levar uma cotovelada do namorado. Uma cotovelada, sim. O crime aconteceu na porta da casa em que vivia com a família, em Mogi das Cruzes, São Paulo. O golpe foi desferido no meio de uma discussão. A estudante caiu no chão e teve fratura de crânio. Motivo da briga ,contado pela mãe de Jaqueline: a vítima não teria atendido uma ligação de telefone dele, porque seu celular estava desligado.

Você não atende o telefone na hora em que o seu namorado liga e é MORTA POR ISSO. Não. Chega.

"Cê viu como é que eu tava, alteradão, acabei fazendo besteira. Dei logo um pancadão na Jaque, ela caiu lá desmaiada no chão e vim embora", a mensagem foi enviada pelo suspeito, conhecido como Elson, para um amigo pelo Whatsapp. "Estava alteradão", diz o sujeito, como se isso fosse normal, uma parte da sua personalidade. Chega da desculpa do sou assim e pronto.

Tudo dói quando ouvimos essa história. E incomoda muito ver que o ciclo da violência e do abuso parece tão familiar.

A mãe, preocupada, já teria proibido o assassino de entrar em sua casa. A família e os amigos eram contra o relacionamento, porque o cara era agressivo. E porque ela aparecia vez ou outra com manchas roxas.

503 mulheres agredidas por hora

Os números mostram que 30% das mulheres brasileiras já passaram por algum tipo de violência. Algumas "parecem" menos graves, como ameaças verbais. Mas nenhuma delas é. É hora de parar de tolerar.

Quantos caras agridem (e existem várias formas de agressão, repito), por alegarem "ter gênio difícil"? Em quantos relacionamentos cria-se uma tempestade por causa de uma coisa mínima tipo, ela não atendeu o telefone? Se nunca aconteceu com você, já deve ter acontecido com uma amiga, uma filha de amiga, alguém da escola.

Não são todos os casos que acabam tão tragicamente. Mas a história de Jaqueline, e de muitas outras (503 mulheres brasileiras são vítimas de agressão a cada hora) são mais que um sinal de alerta, são um berr0 de desespero.

O suspeito continua foragido. Jaqueline foi socorrida pela mãe e uma amiga, mas já chegou morta ao hospital. Precisamos ficar atentas. Muito. O tempo todo. E cuidar bem da gente e das outras mulheres e meninas.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.