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Tendência: mulheres dizem "adeus" ao salto alto e "sim" para o conforto

Nina Lemos

15/06/2018 04h00

Foto: Getty Images

Mês passado, a atriz Kristen Stewart fez um gesto simbólico no tapete vermelho de Cannes. Na frente dos fotógrafos, ali, onde se faz poses, ela parou, tirou a sandália de salto alto e seguiu descalça. O gesto de Kristen foi visto como mais uma atitude feminista da atriz, uma das mais engajadas de Hollywood.  No dia do casamento real, uma das convidadas, a tenista Serena Williams, posou arrumada para a festa de gala do casamento exibindo orgulhosa tênis pretos por baixo de um vestido Valentino.

Excentricidade de famosas? Parece que não. Mulheres do mundo todo mostram cada vez mais estarem cansadas daquele dito popular que diz que "mulher elegante não sente frio nem dor" e optando por uma coisa chamada conforto (o que não significa não ter estilo, atenção!) e por outra chamada não sentir dor (sim, ficar horas de pé em cima de um salto machuca).

Segundo um levantamento divulgado essa semana pelo site de vendas de moda americano ThredUp, a empresa viu um aumento de 38% nas devoluções dos saltos altos. E, ao mesmo tempo, um aumento de 46% nas vendas de tênis no meio período.

Ano passado, segundo pesquisa divulgada pela empresa de pesquisa de mercado americana NPD, a venda de saltos nos Estados Unidos caiu 12%, e a de tênis feminino subiu 37%.

O conforto veste Prada

Uma das coisas mais interessantes dessa tendência é que ela vem da consumidora. Ou seja, não são estilistas ou editores de moda que estão nos convencendo do que devemos usar. Porque é assim que a moda funciona. A gente dorme achando Rider feio e acorda no dia seguinte achando lindo.

No caso do "adeus aos saltos" é o contrário. Consumidoras dizem não. As marcas se adaptam."A consumidora já mudou. Nós estamos falando sobre uma mulher sem paciência para pés doloridos. Para ela, a palavra conforto é um mantra a perseguir. Ela quer ser livre para decidir o que usar e quando usar", diz a consultora de moda Jussara Romão, que fala que sim, no Brasil, seguimos exatamente a mesma onda

Segundo ela, a maioria das mulheres ainda têm dificuldades em tênis no dia a dia. Mas, ela explica, as marcas perceberam o movimento e, como não são bobas nem nada (ao contrário), lançaram modelos para agradar essas consumidoras.

"As marcas não perderam tempo e lançaram sapatos mais baixos ou com saltos mais pesados, além de tênis, claro. Entre essas marcas estão as grifes mais importantes como Chanel, Prada, Balenciaga, Gucci e Valentino", explica.

Atenção, ninguém aqui está falando que as pessoas não podem usar salto (ou não devem). Cada um faz o que quer e ninguém tem que nada. O que as mulheres parecem estar cansadas é de ter que usar salto alto por obrigação, seja no trabalho ou em festas, porque senão "ela não está arrumada."

Torturar-se por causa da moda parece estar cada dia mais… fora de moda. E, claro, não tem como isso não ser uma boa notícia.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.