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#EleNão: do Facebook às ruas do mundo todo para fazer história

Nina Lemos

01/10/2018 11h52

Largo da Batata, em São Paulo: uma das muitas concentrações pelo mundo contra Bolsonaro, no dia 29 de setembro

"Mas isso é só uma hashtag". "Isso não vai dar em nada." "Tenho preguiça de movimento que começa na internet." Ouvi isso dezenas de vezes nas últimas semanas enquanto mulheres se organizavam e montavam grupos "Mulheres contra Bolsonaro" no Facebook. Entrei e saí várias vezes de muitos. "Mas isso é importante", "vamos lá", a gente repetia, eu e minhas amigas, sem a noção de que estávamos perto de um momento histórico.

Eu não tinha ideia do que estava por vir. Alguém tinha?

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Dia de 29 de setembro de 2018 ficará na memória e na história como o dia em que nós, mulheres de todas as idades (minha afilhada de 9 anos foi. E minha mãe de 77 também) tomamos as ruas do Brasil e do mundo contra o ódio, a intolerância, o racismo, a homofobia, o machismo e o horror. As fotos e os vídeos não deixam dúvidas. Éramos quantas em São Paulo? Milhares. E logo nesse dia a PM não contou (talvez porque não contassem com a nossa astúcia. Há!). Até na Alemanha, onde moro, éramos muitas (e muitos). Foi a maior manifestação feminista do Brasil, segundo estudiosos do tema.

A nossa luta é todo dia (mesmo)

No Facebook, muitos amigos agradecem a nós, mulheres. A gente diz obrigado. Mas, assim, não precisa agradecer. Sabe por que a gente foi para a rua e se organizou e gritou? Porque tudo que a gente tem na vida a gente conquistou assim. Se nossas antepassadas não tivessem gritado, não votaríamos, não usaríamos calças compridas, eu não seria autora deste blog. Tudo que podemos fazer conseguimos porque brigamos. E isso não é algo necessariamente bom. Deve ser maravilhoso ser homem hétero branco e nascer sem ter que gritar tanto.

Sabe aquela fala de passeata: "A nossa luta é todo dia, contra o machismo, o racismo e a homofobia"? Isso não é modo de dizer. A gente luta todo dia mesmo (eu, por exemplo, já estou preparada para ser chamada de feia, baranga e mal comida depois de publicar este texto).

Todo dia lutamos para ser ouvidas numa reunião, para dar conta de tudo (porque ainda inventaram que somos multitarefas), para não sofrer algum tipo de assédio. Os negros e as negras lutam todo dia contra o racismo e os gays todos os dias contra a homofobia.

Se a gente junto é capaz de barrar o fascismo? Ainda não sabemos. Mas, como diz a música, "tamos preparadas pra fazer revolução."

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.