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Mulheres, negros, LGBTs... O que aprendemos com as eleições de 2018?

Nina Lemos

29/10/2018 12h04

Arte que circulou na internet no período eleitoral (Reprodução/Facebook)

Aprendemos, mais que nunca, que ao meu lado há um amigo que é preciso proteger, frase daquela música dos "Saltimbancos" (disco e peça de teatro infantil do Chico Buarque que era  hit nos 70 e 80), que embalou a nossa infância e nunca iremos esquecer. Agora, mais que nunca, vamos usá-la na prática.

Nos decepcionamos e brigamos ouvindo declarações de ódio de amigos? Sim, mas descobrimos que alguns deles podem ser generosos e fazer coisas como votar em um partido que odeiam contra o ódio.

Passamos a nos sentir mais próximos de pessoas que nem considerávamos amigos, mas colegas, conhecidos. Sério, se você perdeu amigos nessa eleição, eu tenho certeza que você fez muitos, também.

Aprendemos o poder das fake news e que as pessoas acreditam em absurdos. Vamos ter que lidar com isso. Ainda não sabemos como, mas vamos ter que aprender a combater mentiras.

Aprendemos que podemos trocar sorrisos e abraços com desconhecidos. Muitos amigos que foram para a rua contra o fascismo me relataram o sentimento indescritível de abraçar um desconhecido e perceber que, apesar de não se conhecerem, estavam juntos. Muitos choraram de emoção abraçando pessoas que nunca viram.

Aprendemos que a resistência dos grupos mais vulneráveis, como negros, mulheres, LGBTs, está mais forte do que nunca. No Instagram, criaram uma página chamada "Minoria Resiste". Os casos relatados de aumento de violência contra LGBTs são alarmantes, mas não só a comunidade está unida, como muitos que os amam e os respeitam se colocaram ao seu lado. E lá continuarão.

E nós, mulheres? Fizemos uma manifestação linda, no mundo todo, fizemos história ao falar não para a perda de nossos poucos direitos e estamos mais fortes e unidas do que nunca.

Na madrugada de domingo para segunda, acompanhei, em meio a relatos de tiros, brigas e ameaças, muitas das minhas amigas e dos meus amigos gays dizendo que se sentiam mais fortes. E isso não é pouca coisa.

Aprendemos que não estamos sós. No Twitter, na conturbada noite de ontem, profissionais como advogados e médicos se colocavam à disposição para atender de graça quem precisasse.

Sabe aquele papo de que o brasileiro não luta pelos seus direitos, é acomodado etc? Depois dessas eleições ele não pode mais ser usado.

Vimos que famosos do Brasil e do mundo tem coragem e generosidade de dar a cara, aguentar ameaças na Internet e nas ruas, para lutar por aquilo que acreditam.

Aprendemos que os jovens gostam, sim, de política. Estudantes de 14, 15 anos, passaram dias nas ruas se oferecendo para conversar com desconhecidos sobre política. Quem poderia imaginar uma coisa dessas?

Estou com os meus amigos. Acredito, mesmo, que saímos dessa mais fortes. Motivo? Como diriam os "Saltimbancos": "Todos juntos somos fortes, não há nada a temer." E isso não tem a ver com política, mas com amor e amizade mesmo.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.