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Lugar mais perigoso para mulheres é em casa. E se parceiros tivessem armas?

Nina Lemos

26/11/2018 11h46

Foto: Getty Imgaes

"Morta a facadas". Quando você coloca essa expressão no Google, aparecem vários nomes de mulheres. As histórias, em geral, são as mesmas e tristes de sempre. Companheiros que não aceitaram separação atacam ex e as matam. Homens esfaqueiam as parceiras no meio de uma discussão. E por aí vai o horror.

Segundo levantamento do Ministério Público do Estado de São Paulo divulgado em agosto, facas, foice ou canivete são as principais armas usadas por agressores para matar mulheres em casos de feminicídio no Estado de São Paulo. As chamadas armas brancas respondem por 58% dos casos. As armas de fogo, por 17%.

Não é coincidência que as armas "caseiras", aquelas que qualquer um tem acesso, sejam responsáveis pelas mortes. Pesquisa da ONU divulgada ontem, Dia Internacional de Combate à Violência contra Mulher, prova que mais da metade das mulheres assassinadas no mundo foram mortas por companheiros ou familiares, o que faz com que suas casas, vejam só, sejam os lugares mais perigosos para elas.

No estudo, o gabinete da ONU sobre Drogas e Crime (UNODC) calculou que, de um total de 87 mil homicídios de mulheres registrados em todo o mundo no ano passado, 58% foram cometidos por companheiros ou familiares.

O Brasil é o quinto país com a maior taxa de feminicídio do mundo. De tão comuns (o último levantamento do Mapa da Violência mostra que 13 mulheres são mortas por dia),  as histórias são contadas com terrível naturalidade nas páginas de polícia. No meio de brigas, parceiros "se descontrolam", pegam facas e atacam mulheres até a morte. Muitos desses sujeitos já tinham agredido as parceiras antes de matá-las. Pergunta inevitável, olhando para esses números em um momento em que se fala em legalizar o porte de armas no Brasil. E se os agressores tivessem armas de fogo?

E se todos os homens que dão "tapas", "empurrões" em mulheres tivessem revólveres? Dói só de imaginar.

"Ah, mas as mulheres também teriam armas", responde um ingênuo. Bem, nesse caso, mulheres e homens brincariam de faroeste em casa, os filhos ficariam no meio? Mulheres atirariam em seus maridos antes que fossem mortas? Sério?

Estou falando de fatos. Não de mimimi. São números, pesquisas feitas por gente renomada do mundo inteiro. Homens matam mais mulheres e agridem mais. O que seriam desses agressores  armados? O que seriam das adolescentes com os "namorados violentos" se eles estivessem com armas? É duro de imaginar, doído. Mas todos nós, homens e mulheres, temos que pensar nisso a sério.

Tenho certeza que a grande maioria dos homens repudia a violência contra a mulher. Certeza. Para combater o horror, diminuir a violência e, pelo amor, evitar que ela aumente, temos, mais do que nunca, que estar juntos. Sinceramente, alguém gostaria que a filha, sobrinha, irmã, saísse com um cara armado?  É sério, muito sério.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.