Topo

Isis Valverde: o problema não é a barriga seca da atriz, mas o Instagram

Nina Lemos

10/12/2018 13h46

Foto: Reprodução/Instagram

Desde que teve seu primeiro filho, em novembro, a atriz Isis Valverde virou um dos assuntos mais comentados da internet.  Motivo: ela está com um corpo incrível, com uma boa forma surpreendente. E mostra isso no Instagram. Sim, "apenas isso", mas o suficiente, em tempos de redes sociais, para causar reações de amor, ódio, criticas extremadas.

Para quem não viu: depois de ser supercriticada por postar uma foto na piscina, de maiô, a atriz publicou no fim de semana uma foto com a barriga de fora (mais seca do que a da maioria das mulheres que nem tiveram filhos).

Confusão formada. Algumas mulheres desacreditam que aquilo seja real.  Outras comentam que as fotos as fazem se sentir mal, já que, depois de terem filho, se sentem feias, com a autoestima no pé. "Meu filho tem quatro meses e minha barriga parece de oito meses", comenta uma seguidora.

Eu as entendo. Nunca tive filho, mas o Instagram parece ter uma dessas funções: fazer a gente se sentir um lixo.

Não acho que a culpa seja da Isis (se ela se recuperou bem e se sente bonita, ótimo), mas da plataforma, mesmo. Quando ela parar de postar, outra mulher que pariu e teve uma recuperação ótima vai fazer o mesmo. Quem teve filho e não se sente bem com o corpo vai se sentir pior…

Pior rede social para a cabeça

Já está provado: o Instagram é a rede social que mais causa danos a saúde mental. Não é só a gente que se sente mal. É comum e isso já foi revelado em vários estudos. Os sentimentos negativos mais comuns que v⁄êm à tona com o uso da mídia social são: a baixa autoestima, a inveja, o ciúme e o sentimento de improdutividade. Ou seja, tudo causado pela comparação das nossas vidas com as das pessoas ali.

Quem não está grávida se sente mal a ver um corpo malhado. E quem não liga para isso (meu caso) se sente mal achando que os outros têm uma vida mais interessante do que a sua.

Sim, eu também padeço da angústia do Instagram. Quem não?  Muitas vezes estou deitada na cama, sem ânimo, cansada e olho as pessoas todas felizes, na praia, escalando montanhas, em eventos badalados e me acho uma perdedora. Sim, acontece.

Por isso, temos que repetir sempre (inclusive para nós mesmas) que aquilo NÃO É A VIDA REAL, mas um fragmento bem editado.

No caso das mulheres no pós-parto, pensem. Nenhuma mãe posta foto da hora em que o filho está com cólica e ela, sem dormir, não sabe o que fazer e se desespera (inclusive porque ela está consolando o filho, se ela parar para fotografar esse momento aí a coisa vai ser séria mesmo!). A foto da mãe maravilhosa, com o corpo lindo e o sorriso durou um minuto. Por mais que ela esteja feliz, ela é humana, ela também tem problemas!

E, me diz, você também não escolhe bons momentos e bons ângulos na hora de postar no Instagram? O seu Instagram representa a realidade da sua vida ou só alguns momentos bons? Aposto na segunda hipótese. Quem somos nós, que fazemos o mesmo, para culpar uma atriz que posta uma barriga linda no pós-parto? Ninguém, pois na maioria dos casos, apesar de não ter o mesmo poder de influência, fazemos o mesmo.

O que fazer? Sair do Instagram? Seria ótimo, mas será que a gente consegue? E, além da parte ruim, a rede tem coisas legais. Eu curto ver meus amigos, seus filhos, por exemplo.

Conselho que prometo tentar cumprir: passar menos tempo no Instagram. E quando der de cara com uma foto que nos faça pensar: "Por que com ela é assim, comigo não?", lembrar que os outros também têm problemas. E, claro, lembrar que a vida não é uma competição, nem pela melhor volta à forma após o parto nem de quem teve o melhor domingo. Não sei se vamos conseguir. Mas vale tentar.

Comunicar erro

Comunique à Redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:

Isis Valverde: o problema não é a barriga seca da atriz, mas o Instagram - UOL

Obs: Link e título da página são enviados automaticamente ao UOL

Ao prosseguir você concorda com nossa Política de Privacidade

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.