Amor em tempos de quarentena tem troca de nudes e exs fazendo contatos
Nina Lemos
06/05/2020 15h51
A jornalista Letícia administra um perfil que compartilha nudes dos seguidores (foto: Arquivo pessoal)
No início da quarentena, a professora carioca Helena (nome fictício), de 45 anos, ofereceu ajuda para conhecidos em um grupo de WhatsApp. Alguns dias depois, recebeu uma mensagem privada de um dos membros do grupo. Começaram a conversar. E, apesar de não terem se encontrado para trocar uns beijos, estão "tipo namorando". "Ele é amigo de amigos e nunca tinha rolado nada. A gente foi se apoiando um no outro e agora estamos assim, com mil planos para depois da quarentena. Nos falamos todo dia. Eu me arrumo para fazer chamada para ele, feito uma adolescente", conta.
Helena é uma prova de que o amor pode aparecer em tempos de quarentena! Sim, enquanto muitos não conseguem pensar em nada que não seja álcool-gel e notícias ruins, tem muita gente que consegue paquerar. Quando dá certo, como no caso de Helena, o encontro fica marcado para "quando tudo isso passar."
São poucos os que têm coragem de furar a quarentena por causa de sexo ou paquera. Caso do ator Renato (nome fictício), que furou a quarentena para um encontro. E se arrependeu.
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"Eu queria arrumar um ficante fixo, um namoradinho, inclusive para ter companhia, já que moro sozinho em um país estrangeiro", conta Renato, brasileiro que mora em Lisboa. Ele conversou com vários caras que encontrou em aplicativos de paquera. "A maioria estava assustada. Falando em encontrar depois da quarentena. Até que teve um cara gato que topou me ver, disse que viria até a minha casa. Achei a atitude dele muito decidida, já que ele teria até que pegar metrô e topei." "O sexo foi horrível, ele broxou e eu fiquei super arrependido depois. Foi uma ressaca moral dupla. Furei a quarentena, o que é errado, só para ficar com alguém e ainda foi ruim. Imagina se eu tivesse pegado covid por causa de uma transa ruim?", ele ri, aliviado, um mês depois (não, ele não foi contaminado).
Chuva de nudes
Agora, Renato paquera só online. "Adoro mandar e receber nudes. Sexo virtual já acho complicado, tem que administrar a câmera, se olhar, vê se está gato, não dou conta."
Renato não é o único (muito pelo contrário) a mandar nudes durante a quarentena. Na verdade, mandar nudes atualmente é tendência, como atesta a jornalista Letícia Gicovate.
"As pessoas estão trocando nudes como nunca", ela diz. Letícia é criadora da revista online "Ninmagazine" e responsável pelo projeto "Anônimos". "A ideia é que as pessoas me mandem nudes e eu poste com uma certa curadoria. Tinha parado há alguns meses por causa da censura do Instagram. Resolvi voltar em tempos da quarentena porque achei que as pessoas podiam estar com vontade de mandar e ver nudes. Dito e feito. Recebo cerca de 30 fotos por dia e tenho 12 mil visualizações por dia em uma conta fechada do Instagram. Tem tido um feedback muito positivo. A expressão da sexualidade hoje virou quase uma utopia", conta.
No dia em que conversou com o blog, Letícia tinha 120 mensagens ainda sem resposta. "Me sinto dirigindo uma ONG", brinca.
A incrível volta dos exs
Outra tendência de paquera na quarentena é a volta de ex namorados e namoradas. Faz sentido. Trancados em casa, sozinhos, rola mesmo uma carência. Por isso, muita gente está procurando ex casos para dar um oi, perguntar como está e, quem sabe, retomar algo.
"Está muito animado", diz Gabriela, que prefere não dar seu nome completo. "É muito ficante do passado entrando em contato. E, em algumas vezes, quem faz contato com algum ex sou eu mesma", ri.
"Até meu primeiro namorado, com quem eu não falava há séculos me escreveu para dizer que queria me rever e perguntando se estava tudo bem com a minha família", conta. Ela não tem dado muito papo. "Ele estava muito carente, então foi complicado. Chegamos até a ter uma discussão online." Por outro lado… "conheci um pernambucano no Carnaval. A gente continuou se falando, mas estava esfriando. Agora que é quarentena nos falamos todos os dias, ele me manda vídeos tocando violão, desabafamos sobre nossas alterações de humor. Mas ainda não consegui que ele me mandasse nudes", ela ri.
"Vai ter fila na porta da minha casa quando acabar a quarentena", me diz um amigo, que marcou chopes com pretendentes variados." Quando serão esses chopes? Ninguém sabe. Mas, enquanto estamos vivos, vale a diversão!
Errata: diferentemente do publicado, o nome da página é Ninmagazine, e ela é administrada por Letícia Gicovate.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.