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TikTok: aplicativo favorito dos jovens tem piadas com autistas e racismo

Nina Lemos

26/05/2020 04h00

Crédito: Oatawa/ iStok

Alguns adolescentes imitando autistas, outros fazendo piada racista. Sim, estamos falando de 2020. E, mais particularmente, do TikTok, o aplicativo que virou mania entre crianças e adolescentes e que só cresce. Só durante a quarentena, o número de usuários do aplicativo cresceu 75%.

O TikTok ficou famoso pelos vídeos de danças e dublagens, mas a plataforma também tem sido usada para reproduzir ódio e preconceito.

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Há cerca de dez dias, uma nova "moda" começou a fazer sucesso no aplicativo: o "autism challenge" (desafio autista, em tradução livre).

No tal "desafio", que está entre as tags mais populares do aplicativo, pessoas imitam portadores de autismo. Pura e simplesmente horrível assim. Sabe aquelas brincadeiras de escola de garotos sem noção imitando portadores de deficiência? É isso. A diferença é que a tal "brincadeira" viralizou e foi copiada por milhares de pessoas.

Se tem graça? Nenhuma.E se é ofensivo? Opa! Pensa aqui: pais e portadores lutam há décadas pela inclusão e pelo respeito dos autistas (e de todas as outras crianças "especiais").

Aí, de repente, de um dia para o outro, todos estão fazendo chacota de seus filhos na mídia social preferida de crianças e adolescentes. Que tal?

"Alguns autistas fazem movimentos, que são muito característicos de cada um. Alguns balançam para frente para trás, outros mexem a cabeça. Meu filho, por exemplo, mexe a mão quando está feliz. Esses movimentos servem para eles regularem as emoções, se acalmarem, se estabilizarem. Se é legal alguém rir disso? Claro que não", diz a jornalista Manuela Aquino, mãe de Thomas, de cinco anos.

Ela, assim como a maioria dos pais de autistas, ficou bem chateada quando viu os vídeos, claro. Nos Estados Unidos, onde o desafio começou, várias entidades se manifestaram para que os vídeos fossem tirados imediatamente do ar. 

Depois de muita pressão, a empresa se manifestou e disse que os vídeos seriam deletados. Na segunda-feira (25), dia que escrevi esse texto, muitos deles ainda estavam lá.

Essa geração não era melhor?

Esse não é o único escândalo envolvendo aplicativo. Semana passada, o aplicativo foi usado para replicar um vídeo indiano de violência contra mulher. Em abril, dois adolescentes americanos foram expulsos da escola depois de postarem um vídeo racista.  Nos Estados Unidos, as denúncias de racismo no aplicativo viraram uma constante.

É triste. Mas a nova geração (a maioria dos usuários são crianças e adolescentes) que imaginávamos que teria mais compaixão e saberia lidar com mais tranquilidade com as diferenças não é tão evoluída como imaginávamos. A turma do fundão, aqueles "populares" que acham legal humilhar os outros ainda existem. E são considerados "cool".  

Se seu filhos têm contas no TikTok, talvez valha dar uma conversada com eles. Nem tudo ali é dancinha e inocência.  Trata-se de uma rede onde usuários postam conteúdo e só depois de denunciados os posts de ódios são deletados (quando são), assim como Facebook e Twitter. Ou seja, é uma terra de ninguém… É bom ficar atento.

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Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.