Príncipe Andrew é acusado de orgia com menores. Problemática é a Meghan?
Nina Lemos
04/08/2020 04h00
Imagem: SWEN PFÖRTNER / DPA / AFP
Já pensou que escândalo seria se um príncipe da realeza britânica fosse acusado de ter mantido relações sexuais com uma menor de idade explorada por um criminoso? Já pensou? Pois é, o príncipe Andrew, filho da rainha Elizabeth, tem sido acusado desse crime horrível faz dez anos. DEZ ANOS! O caso tem recebido atenção moderada. Nada que se compare com a enxurrada de notícias negativas recebidas por Diana e Meghan Markle, por exemplo. Mulheres que, vamos deixar claro, não foram acusadas de nenhum crime nessa linha.
"Como a Meghan Markle teve cobertura na imprensa pior que o Andrew", escreveu o esportista jamaicano Ashton Rewitt em um Twitter que viralizou ontem.
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Pois é, como? Resposta rápida: sendo mulher, negra e plebeia, não necessariamente nessa ordem.
Não é de hoje que a família real escolhe mulheres para acusar e expurgar os seus demônios. Aconteceu com Diana, Camilla Parker Bowles e agora acontece com Meghan.
Enquanto isso, os feitos (muitas vezes vergonhosos) dos homens recebiam uma boa passada de pano (por parte da família real e da imprensa britânica ávida por intrigas). Agora, parece que vai ser mais difícil "deixar para lá". Andrew, finalmente, está sendo processado na justiça.
O príncipe é acusado de manter relações sexuais com Virginia Louise Giufree, que alega ter sido escrava sexual de Jeffrey Epstein quando era menor de idade.
Epstein era um milionário americano que passou anos mantendo relações com menores e as "repassando" para outros milionários poderosos. Ele estava preso, aguardando julgamento, quando se matou na cadeia em 2019. Ghislaine Maxwell, namorada de Epstein e comparsa dele em crimes, foi presa mês passado.
O caso é retratado na séria documental "Jeffrey Epstein, Poder e Perversão", da Netflix. A acusação ao príncipe Andrew está lá.
As coisas têm se agravado rápido, finalmente. Sexta-feira passada, o jornal inglês "The Mirror" revelou que o príncipe teria sido acusado na justiça por "orgia com menores". Andrew, segundo os documentos, teria mantido relações sexuais com outras menores de idade além de Virginia. O príncipe teria ainda feito um lobby junto ao sistema de justiça dos Estados Unidos para que seu amigo, Jeffrey Epstein, conseguisse um bom acordo e, possivelmente, não pagasse pelos seus crimes.
Virginia ainda afirmou, em um dos muitos processos que investigam a dupla, que Andrew saberia de "muita coisa" sobre os crimes cometidos por Epstein.
Domingo foi a vez do jornal "Dailly Mail" divulgar documentos onde Virgínia relata sua experiência com Epstein. Segundo ela, quando tinha entre 17 para 18 anos, ela foi mandada para o rancho do milionário para passar dois dias com o príncipe. Ela revelou também detalhes sobre os fetiches sexuais preferidos do príncipe. Isso não vem ao caso. O que realmente é grave, muito mesmo, é acobertar e apoiar uma rede de prostituição de menores.
Todo o esquema capitaneado por Epstein é descrito no documentário do Netflix e é nojento. No filme, a impunidade do sistema de justiça quando se trata de um crime feito por um milionário cheio de amigos poderosos é de dar enjoo. Além de Andrew, Donald Trump e Bill Clinton também eram "parças" de Epstein.
Será que as acusações finalmente serão investigadas e levadas a sério? Ou vão tentar desviar o foco inventando outra intriga entre mulheres que não praticaram nenhum crime? Não sabemos. Mas bem que o caso poderia servir para uma espécie de #MeToo do meio dos políticos poderosos e milionários. Já pensou? E será que isso é possível? Difícil, mas necessário.
Sobre a autora
Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.
Sobre o blog
Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.