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Nina Lemos

Nos dias atuais, famosos que saem do armário prestam um serviço público

Nina Lemos

08/01/2019 04h00

Lan Lanh e Nanda Costa. Foto: Reprodução/Instagram

"Amanhã já está liberado matar gay". A frase (criminosa) foi dita no Facebook, na semana passada, por uma nutricionista, teoricamente uma mãe de família. Não foi uma semana fácil para a comunidade LGBT, que começou o ano com medo de perder direitos e sendo ameaçada.

No primeiro dia de governo, os direitos LGBTs desapareceram da pasta de Direitos Humanos. Depois de muito escândalo, o caso foi "corrigido".

Mas os ataques não pararam. Em um áudio em um culto, descoberto por repórteres, a Ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Damares Alves, diz em um culto que sexo entre pessoas do mesmo g⁄ênero seria "uma aberração". E, claro, como todos sabem, depois de sua posse, teve o vídeo em que a ministra celebrou uma nova era, onde meninos vestiriam azul e meninas vestiriam rosa. Não parou aí.

Para culminar, no fim da semana, apareceu a notícia de que a cartilha de prevenção de saúde voltada para homens transexuais foi tirada do ar pelo Ministério da Saúde.

No meio de tantas medidas retrógradas, a imprensa internacional noticia também a reação. Não somos uma população conservadora, não. E são muitos os que colocam a cara, a alma, para defender os LGBTs.

E, mais que isso, reparem, são muitas as pessoas saindo do armário, postando suas fotos de amor nas redes sociais. E, junto deles, estão famosos, que se expõem ao risco de perder trabalho e receber declarações de ódio. Não é tão fácil, em um momento com tantas declarações de ódio, se assumir.

Caminho sem volta

Mas não está faltando coragem. Podem reparar. As notícias de casais felizes, que mostram que o amor não tem que ser menino e  menina (e muito menos vestindo rosa e azul) ocupam o mesmo noticiário que traz a ameaça da perda de direitos. Uma nova era? Desculpa, mas não vai ser fácil assim impor uma lei que proíba as pessoas de se expressarem amorosamente. Digo mais: vai ser impossível. Certas coisas não têm mais volta.

Por isso, é interessante (e bom) ver que, exatamente nesse momento, o Brasil esteja vivendo uma onda de "saída do armário." Mais e mais famosos se assumem gays (e anônimos também, claro).

Famosos que sempre foram discretos em relação à vida social (e ninguém precisa falar nada mesmo se não quiser) cada vez mais afirmam quem são e bancam suas histórias de amor. Exemplos não faltam.

A jornalista Leilane Neubarth , apresentadora da Globonews, exibiu uma foto com a namorada Isabella, no Instagram, na noite de Ano-Novo, junto com uma declaração pregando o amor. Quando uma seguidora perguntou se era sua namorada, ela, que tem 60 anos e é avó de um menino, respondeu com naturalidade que sim. E, o melhor de tudo: os comentários dos fãs, nesses casos, são, em 99% dos casos, positivos, de incentivo. Nova era?

Entre os que saíram do armário recentemente estão: Lulu Santos, Nanda Costa, Leonardo Vieira, Hugo Bonemer, Lais Souza, só para citar alguns exemplos. São pessoas que, em um momento de perda de direitos e medo (o Brasil é o país onde mais homossexuais são assassinados no mundo) prestam um serviço de utilidade pública. E recebem coraçõezinhos do público. Nem tudo está perdido…

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.