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Nina Lemos

Se Ministro da Educação estivesse no jardim da infância, estaria de castigo

Nina Lemos

19/11/2019 15h57

 

"Você é um bobo da corte."

"Não, eu cuido da velha sarnenta da sua mãe."

Essa "conversa"  não aconteceu em uma escola de ensino fundamental, o chamado prezinho, mas no Twitter. E os participantes da conversa não eram adolescentes que precisam de bronca, nem crianças. Pelo contrário, um deles era o Ministro da Educação do Brasil, Abraham Weintraub.

Sim, o ministro da educação é uma pessoa que tem um comportamento nas redes sociais que condiz com o de uma criança de cinco anos mal educada (as educadas não fazem assim!).

Se um aluno de uma escola fizesse uma coisa dessas, chamar a mãe de um coleguinha de "cabra desdentada", o que acontece com ele? Os pais seriam chamados para conversar e o aluno iria parar na sala da direção.  Quando chegar em casa, provavelmente o menino iria ficar de castigo.

Se um filho meu ficasse na internet chamando a mãe de um colega de égua, ele ficaria de castigo. Pode apostar. No mínimo, uns bons meses sem celular.

Mas, repito, estamos falando não apenas de um professor ou de um diretor de escola (seria um absurdo se alguém com essa profissão fizesse isso), mas do Ministro da Educação! De certa maneira, não o chefe dos alunos, mas também dos professores e dos diretores de escola!

Essa "conversa" aconteceu na sexta-feira. No mesmo dia, ele respondeu assim a um seguidor:  "sinto em avisar, porém, seu caso não resolve estudando. Tem que reencarnar. Aproveita e peça para não voltar tão feio (parece mistura de tatu com cobra)."

Sim, um ministro de educação chamou uma pessoa de tatu (está usando isso no jardim da infância?) e ainda disse que estudar não valeria a pena. Ele levou algumas broncas pelas redes sociais. Mas não parou. Na segunda feira, uma usuária escreveu: "A gente pode ter todas as críticas a você, mas uma coisa a gente tem que confessar: você humanizou os ministros. Hoje eu olho para o meu primo mais babaca e falo 'poxa, pode ser o próximo Ministro da Educação."

E o que ele respondeu?  "Fico feliz, dado que a concorrência na sua família para ser o MAIS BABACA deve ser enorme. Evidentemente que você não pode concorrer…seria muito injusto…"

O que aconteceria em uma escola se um aluno fizesse isso tudo em três dias? Suspensão!

Está chovendo fake news

Não é de hoje que o Ministro , chamado pelo genial colunista da Folha José Simão de Ministro Sem Educação, causa nas redes sociais. Ele já fez video com um guarda chuva dançando e cantando: "está chovendo fake news", um momento engraçado, mas que parecia uma peça de teatro do fundamental. Seria engraçada na segunda série, não para um ministro.

Ah, "mas a página do Twitter é pessoal", argumentam alguns. Bem, se fosse esse o caso (nenhuma página no Twitter é só pessoal), ainda assim o Ministro mostraria que é uma pessoa sem educação e sem limites. E, óbvio, um Ministro de Estado tem que cumprir regras de decoro. Inclusive, quase todos os adultos têm. Se eu respondesse leitores assim, poderia ser demitida. E acharia justo.

Agora, um Ministro, além de tudo, tem que dar exemplo, não? Se chama alguém de égua sarnenta e  de feio na internet, as outras pessoas que até se sentem tímidas para fazer esse tipo de coisa, vão se sentir encorajadas. Voltando ao exemplo da escola: se uma professora chama uma aluna de feia, como os outros alunos vão saber que fazer isso é errado? Não vão!

O Ministro segue uma lógica muito na moda hoje em dia. Aquela do "falo o que passa pela minha cabeça, não estou nem aí!". E isso nos leva de novo ao prezinho. É lá que aprendemos que não podemos agir assim. Se você chama o colega de bobo, corre o risco de apanhar. Se você chama a mãe de alguém de égua desdentada, corre o sério risco de ser suspenso. Até que um dia você pode ser expulso do colégio…E como diria uma professora brava: "não foi por falta de aviso!"

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.