Seria mais magra se mentisse menos: o novo ataque de Bolsonaro contra Joice
"Tem dois deputados que não vou falar o nome aqui. Uma fofucha de São Paulo e um meio japonesinho." A frase foi dita pelo presidente Jair Bolsonaro em uma live ontem. Ele se referia à Joice Hasselmann e a Kim Kataguiri. A homofobia e o preconceito do presidente não pararam por aí. Ele disse também que Joice estaria mais magra se mentisse menos. "Se estivessem fazendo coisas boas, a primeira estaria mais magra e o segundo estaria menos pitoco sem vergonha… Eu acho que mentir engorda, mentir engorda."
Essa não é a primeira nem deve ser a última vez que o presidente usa preconceito descarado para atacar adversários políticos. Joice, ex aliada de Bolsonaro, é chamada constantemente pelo clã do presidente de "Peppa Pig", em alusão à personagem porca do desenho animado.
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Gordofobia não é crime. Ofensa é. E xenofobia também. E, quando o presidente ataca uma adversária a chamando de "fofucha", ele ataca milhares de mulheres do Brasil. Ao falar que "mentir engorda", Bolsonaro ofende não só Joice, mas milhares de pessoas que estão fora do padrão. E, na verdade, ofende a todas as mulheres. Não, nenhuma mulher na política ou em qualquer outro espaço deve ser atacada por causa da sua forma física. Na verdade, nenhuma pessoa. E a a luta contra a gordofobia é uma coisa séria, que cada vez mais mobiliza militantes, artistas e marcas (que aprenderam que, para vender, deveriam tentar de incluir o maior número de pessoas no que vendem).
Qual é a graça?
É "normal" que um presidente chame uma oponente de fofucha, com voz de deboche, fazendo alusão ao seu corpo? Não! Assim como não é aceitável que um deputado seja chamado de "japonês pitoco" (seja lá o que o presidente tenha querido dizer com esse pitoco.)
Uma frase dessas vindo de Bolsonaro não é novidade. Quando deputado, ele ficou famoso por falar que a deputada Maria do Rosário "nem merecia ser estuprada". Foi processado. E perdeu. Ele teve que pedir desculpas para Maria do Rosário. O caso é usado em toda a imprensa internacional para explicar quem é o presidente do Brasil.
Se já era sério um deputado falar isso de uma deputada, imagina o quanto é absurdo um presidente se referir a uma adversária política fazendo piada sobre seu peso? Vamos lembrar que as observações do presidente contra Brigitte Macron, esposa do presidente da França, causou uma crise diplomática.
E agora? Vai ficar por isso mesmo? Ele não vai pedir desculpas?
Pelo jeito, não. No Twitter, alguns dos seus admiradores comentam o ataque como frases do tipo: "esse é meu presidente."
A questão aqui não tem nada a ver com política. Mas com educação e respeito mesmo. Se qualquer pessoa agir com preconceito é absurdo (afinal, não somos mais crianças, podemos discutir com argumentos), o que dizer de um Presidente da República?
E, ah, até o presidente Donald Trump, ídolo de Bolsonaro já teve que pedir desculpas por falar contra mulheres. Sim, em 2016, um áudio onde ele falava absurdos foi divulgado e ele foi obrigado a pedir desculpas. Detalhe: o diálogo era de 2005 e, ao pedir desculpas, Trump ainda nem era presidente. Mas, mesmo ele, percebeu que tinha que tentar maneirar no discurso.
Ano passado, uma política do partido verde alemão, Renate Künast, foi atacada na Internet com comentários que se referiam a sua aparência. Ah, normal, a gente pode pensar, dado a quantidade de ataques sofridos por mulheres no Brasil na internet. Mas sabe o que aconteceu? Ninguém achou normal. Todos os partidos políticos, inclusive os maiores adversários, saíram em solidariedade à Renate.
Ofensas de baixo nível não tem a ver com política partidária, com gostar ou não gostar. Isso é educação básica. E, claro, o problema maior desse tipo de declaração do presidente é que ele abre espaço para que qualquer um se sinta autorizado a fazer o mesmo. Se até o presidente ataca uma mulher usando seu peso e um deputado o chamado de "japonês pitoco", o que muitos vão fazer? A mesma coisa. E ainda vão achar que "mitaram"…