Bolsonaro, Trump e a masculinidade que pode matar (a eles e aos outros)
"Homofóbico orgulhoso, Jair Bolsonaro pensa que é macho demais para o Coronavírus o afetar". Quem está dizendo isso não sou eu (apesar de eu concordar), mas o site de notícias especializado em assuntos LGBT britânico "Pink news". Pois é, mundo afora, essa é a fama do presidente do Brasil, que, claro, com sua atitudes em tempos de pandemia, piora.
Bolsonaro, junto com Trump e Boris Johnson, são considerados os líderes mundiais mais "negacionistas" em relação ao Coronavírus. Muitos dizem — e de novo eu concordo– que negar a o risco de uma doença e chamar de "apenas uma gripezinha" tem a ver com o fato dos três se portarem como machões, que não ligam para "frescuras".
Veja também
- Como Trump e Bolsonaro agravam a pandemia de coronavírus
- Brasileiro mergulha no esgoto e não acontece nada, diz Bolsonaro ao minimizar coronavírus
- Roberto Justus, 64 anos, e a pandemia que escancara o desprezo por idosos
Os colegas machos de Bolsonaro voltaram atrás, como se sabe. Trump, que antes dizia que existia exagero e que a América não podia parar, na sexta feira implorou para que americanos fiquem em casa. Motivo: o Estados Unidos virou o país com mais contaminados no mundo. E Boris Jonhson provou do próprio veneno. O primeiro ministro do Reino Unido anunciou na sexta feira que foi infectado pelo vírus.
Justiça seja feita: Johnson já tinha chamado a pandemia de "uma guerra" antes do resultado dar positivo. Quando o perigo chega perto, assusta até o mais "macho dos machos em negação". Resultado: Bolsonaro ficou sozinho nessa de negar o vírus.
Quer dizer, ficou sozinho no cenário internacional. Por perto, ele tem um time de pessoas parecidas com ele. Um deles é o general Augusto Heleno, Ministro do Gabinete de Segurança Institucional. Mesmo com resultado positivo para o vírus, o general interrompeu a quarentena e voltou a trabalhar uma semana depois de receber o diagnóstico. Seus vizinhos denunciaram que ele anda sem máscara pelo prédio onde mora, ameaçando a vida dos outros.
Bolsonaro, que teve contato com mais de 20 infectados, diz que seu teste foi negativo, mas até eu escrever esse texto, ainda não tinha mostrado o resultado. A uma repórter que perguntou sobre o teste, ele disse; "por que você quer saber, você vai dormir comigo?" Bem, é difícil entender o que ele quis dizer com isso, já que o vírus pode ser passado com um simples aperto de mão. A resposta de cunho sexual foi machista, o que não é novidade para o presidente.
Tiozão do churrasco
Os negadores do Coronavírus parecem com aquele homem que todos já conhecemos, em geral, alguém da família. Aquele tipo antigo, que acha que é muito homem para ir ao médico (como se essas coisas tivessem relação). Aqueles que jamais farão um exame de próstata "porque isso não é coisa de homem, pô" e também não são adeptos de check-up anual ou vitaminas. "Sou homem, não preciso dessas coisas". Para esse tipo, cuidar da saúde é frescura.
Bolsonaro, Heleno e sua turma fazem parte dos homens que sofrem da masculinidade super tóxica, aquela que faz com que, além de arriscarem a saúde deles, a dos outros também seja arriscada. Tipo um pai de família que se recusa a obedecer os limites de velocidade porque "isso é frescura!". E não é coincidência que ele mesmo, Bolsonaro, seja contra radares que medem velocidade, essa "frescura". O presidente mandou retirar os radares móveis das rodovias federais ano passado.
A conexão entre a masculinidade tóxica e a incidência de doenças não é novidade. Segundo uma pesquisa da Organização Pan-Americana de Saúde, os homens da região das Américas tem a expectativa de vida 5,8 anos menor que a das mulheres. Segundo o estudo, um dos motivos é o fato dos homens demorarem para procurar ajuda emocional e médica. Além da pressão para ser macho estimular comportamentos de risco (correr de carro, por exemplo) ou não usar capacete para andar de moto.
Sim. Machismo mata. E as vítimas não são só as mulheres…