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Nina Lemos

Choro de Tiago Leifert causa comoção. Por que adoramos homens que choram?

Nina Lemos

28/04/2020 13h07

"Tiago Leifert chorando. Não existe homem perfeito.. ops."
"Estou chorando por causa do Tiago Leifert sim!"

Essas frases, juntas de muitas outras, lotaram o Twitter na noite de ontem, na final do BBB 20.  A vitória mais que merecida da médica Thelma  e seus gritos de alegria dividiram espaço com as lágrimas do apresentador  Tiago Leifert que, no fim do programa, não conteve as lágrimas. "Muito obrigado a todos vocês que votaram , que nos assistiram, que nos incentivaram a continuar no ar, em uma missão tão difícil [choro]. Em um momento tão difícil [choro]. Mas nós conseguimos [choro]."

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Homens chorando comovem. Deve ser porque é tão raro (ainda) que um homem chore, principalmente em público, e ainda mais sendo assistido por milhares de pessoas. Nós, mulheres, nos derretemos facilmente com as lágrimas masculinas. "Que fofo", dizemos. Isso porque os homens foram educados para não chorar em público. "Homem não chora", dizem alguns pais. "Boiola", dizem colegas de escola. As lágrimas deles não deixam de ser uma libertação.

No caso das mulheres, como choramos com mais facilidade, algumas vezes nossas lágrimas são interpretadas como sinal de fraqueza ou loucura. Sim, acontece. E não estou falando que o choro do Tiago não seja comovente. Claro que é. Assim como foram as lágrimas do Babu, que certamente o ajudaram a ter popularidade no programa. 

"O homem que chora" , apesar de cada vez mais comum, ainda é raro. Tanto que momentos de choros de homens ficam guardados e são lembrados como parte da história. Barack Obama, por exemplo, chamou atenção no mundo todo (e emocionou) quando, em 2016, chorou ao falar sobre medidas de controle de armas e lembrou de um massacre de crianças que aconteceu em 2012 nos Estados Unidos. "Primeiro grau, primeiro grau", disse em lágrimas, se referindo a idade das crianças.

Só 14 vezes na vida!

Uma pesquisa feita em 2016 na Grã Bretanha pelo Universal Channel sobre as lágrimas masculinas mostra números chocantes. O estudo, feito com 2 mil homens, mostra que, em média, os homens choram em público apenas 14 vezes na vida. Só 14! Falo isso porque realmente não lembro quantas vezes eu choro em público por ano. Teve época em que chorei toda semana. Chorar na rua, no ônibus, andando de bicicleta.. é comigo mesmo. E, claro, também já chorei no trabalho. E não, não tenho vergonha disso. Pelo contrário. Eu gosto de chorar, alivia.

Tenho é pena dos homens quando vejo esse tipo de pesquisa. Mesmo assim, os pesquisadores acham que as coisas estão melhorando. A pesquisa também mostra que os homens modernos choram quase três vezes mais que os seus pais, que choraram em público em média cinco vezes na vida. Coitados! Deve ser horrível essa vida sem poder chorar. 

E tem mais, em tempos de crise, como a que estamos vivendo, quem aguenta sem chorar? Chorar é saudável. Liberem o choro, homens! E que as mulheres não sejam chamadas de histéricas ou fracas quando choram, claro.  

Sobre a autora

Nina Lemos é jornalista e escritora, tem 46 anos e mora em Berlim. É feminista das antigas e uma das criadoras do 02 Neurônio, que lançou cinco livros e teve um site no UOL no começo de 2000. Foi colunista da Folha de S. Paulo, repórter especial da revista Tpm e blogueira do Estadão e do Yahoo. Escreveu também o romance “A Ditadura da Moda”.

Sobre o blog

Um espaço para falar sobre a vida das mulheres com mais de 40 anos, comportamento, relacionamentos, moda. E também para quebrar preconceitos, criticar e rir desse mundo louco.